Título: Governo impede convocação de Dilma por CPI
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 27/03/2008, O País, p. 11
Em sessão marcada por bate-bocas, petistas deixam clara intenção de poupar potencial candidata à sucessão de Lula
Legenda da foto: O RELATOR Luiz Sérgio, ao lado de Marisa, toma sorvete de tapioca
Legenda da foto: SERVIDORA distribui sorvete de tapioca aos parlamentares da CPI
BRASÍLIA. Em sessão tumultuada, com bate-bocas, troca de acusações e até distribuição de sorvete de tapioca, a bancada governista fez valer a ampla maioria na CPI do Cartão Corporativo e sepultou ontem a tentativa da oposição de ouvir a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Por 14 votos a 7, foi descartada a convocação da ministra para depor sobre os gastos sigilosos da Presidência e o suposto dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os petistas deixaram claro que a intenção era preservar a potencial candidata à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A base ainda deixou claro que vai barrar a abertura dos gastos secretos do governo com cartões, cuja votação foi adiada novamente para a terça-feira.
Almeida Lima e Antonio Carlos Junior: insultos
Após cinco horas de debates, a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), encerrou os trabalhos em clima melancólico, sem que nenhum dos outros 47 requerimentos em pauta fosse votado.
- Foi um dia péssimo. A situação (os governistas) usou todos os caminhos para postergar qualquer tipo de votação. Estou muito frustrada - desabafou a tucana.
O pedido de convocação de Dilma motivou os debates mais acalorados. Os governistas se revezaram nos microfones para evitar o depoimento da ministra, cotada para a sucessão de Lula. Até o relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), abandonou o estilo discreto:
- Há um debate político entre a oposição, que quer desacelerar o PAC, e a base do governo. Não podemos permitir que apequenem o maior programa de desenvolvimento do país.
- Somos terminantemente contra a convocação da ministra, pelo que ela representa hoje e, talvez, pelo que representará em 2010 - disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).
O senador Almeida Lima (PMDB-SE) discutiu com o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que o acusou de ser dócil com o governo. Momentos depois, o peemedebista protagonizou outra confusão ao tentar interromper o discurso do senador Antonio Carlos Junior (DEM-BA). Os dois chegaram a se levantar e trocar insultos com os dedos em riste.
- Isso é molequeira - disse Antonio Carlos.
- Se não sabe o que é regimento, vá para a escolinha do professor Raymundo e aprenda - respondeu Lima, integrante da tropa de choque que defendeu o ex-presidente do Senado Renan Calheiros.