Título: Brasileiros presos ao tentar entrar na Irlanda
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Fonte: O Globo, 27/03/2008, O País, p. 13

Itamaraty considera "inaceitável" tratamento do serviço de imigração do país a estudantes

Legenda da foto: ANDRÉ: preso com assassinos e ladrões

BRASÍLIA e SALVADOR. O Itamaraty considerou "inaceitável e inadequado" o tratamento dado pelo serviço de migração da Irlanda a três estudantes universitários brasileiros que residem em Portugal em regime de intercâmbio e decidiram conhecer o país. Mesmo com toda a documentação em ordem, Maria Dias, 24 anos, estudante de medicina e Thaís Tibiriçá, 24, que cursa jornalismo, ficaram três dias em uma penitenciária feminina, com outras jovens de diversos países. André São Pedro, 22, aluno de farmácia, foi levado para uma detenção masculina, onde estavam presos assassinos, estupradores e ladrões.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a forma como os estudantes foram tratados não se justifica. O órgão informou que a própria embaixada brasileira em Dublin, que foi orientada a apurar as circunstâncias que motivaram a detenção com as autoridades locais, fez gestões no governo irlandês e não foi atendida.

O governo brasileiro quer explicações da Irlanda sobre o ocorrido e, só depois de conhecê-las, decidirá como proceder em relação ao episódio. No caso da Espanha, que deportou dezenas de cidadãos brasileiros em meio a cenas de maus-tratos, o Brasil optou pela reciprocidade e o serviço de migração passou a ser bem mais rigoroso com visitantes espanhóis.

André dividiu a cela da penitenciária com um palestino e um africano e, no período em que permaneceu no local, ficou incomunicável. Não lhe deram o direito de ligar para a família, tampouco para a embaixada do Brasil. As meninas ficaram separadas de André e não sabiam para onde o colega havia sido levado. As estudantes conseguiram telefonar para os parentes na sexta-feira, um dia depois da prisão.

Os familiares entraram em contato com o consulado do Brasil, na Irlanda.

Oficiais da embaixada foram até a penitenciária no mesmo dia, mas não conseguiram a liberação imediata.

Somente no sábado, os universitários foram libertados e levados de volta para o aeroporto, no camburão.

André conta que, ao ser detido, não lhe informaram para onde seria levado.

- Informaram apenas que seríamos encaminhados para um lugar onde havia alimentação. Não quiseram ver nossos cartões e, quando começamos a fazer questionamentos, nos disseram que não era para a gente falar demais.

Os dois baianos procuraram ontem o Consulado do Brasil em Portugal para falar sobre a humilhação a que foram submetidos. Os estudantes enviaram carta nesta quarta-feira para o consulado irlandês e esperam que alguma providência seja tomada. Eles pleiteiam o ressarcimento do valor gasto com as passagens.