Título: Bolsa de São Paulo se descola dos EUA e sobe
Autor: Rangel, Juliana; Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 27/03/2008, Economia, p. 29

Índice é puxado por ações da Vale. Governo americano revela que economia cresceu 0,6% no último trimestre de 2007

RIO e WASHINGTON. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a se descolar do mercado americano ontem. Puxado por ações da Vale e da Petrobras, o principal índice da Bolsa, o Ibovespa, subiu 0,30%, a 61.415 pontos. Já o dólar caiu 0,29%, para R$1,727. Em Wall Street, por causa de notícias ruins sobre o ritmo da economia americana, o Dow Jones recuou 0,88% e o Nasdaq perdeu 0,71%.

Um dia após a retirada da proposta para comprar a mineradora anglo-suíça Xstrata, estimada em US$90 bilhões, as ações preferenciais (PN) da Vale subiram 4,56%. As ordinárias (ON) ganharam 4,36%.

- Houve alívio dos investidores com a desistência do negócio, pois a empresa ficaria endividada no momento em que o custo de captação está mais alto por causa da crise. E havia o receio de que ela perdesse o investment grade (recomendação de investimento dada por agências de risco) - diz Patrícia Branco, da Global Equity.

De carona na Vale, a ação PN da Bradespar, holding que tem a empresa entre seus principais ativos, subiu 8,01%, a maior alta do índice. À tarde, a variação das ações da Petrobras confirmou a trajetória positiva da Bovespa.

- A ação ganhou fôlego com a alta do petróleo no mercado internacional - disse o gerente de análise do Modal Asset, Eduardo Roche, referindo-se ao aumento de 4,52% na cotação, que fechou a US$105,80 em Nova York por causa de dados fracos nos estoques dos EUA.

Um dos índices divulgados ontem pelo governo dos EUA mostrou que o país está, de fato, à beira de uma recessão - embora as autoridades continuem insistindo em afastar a possibilidade. O Departamento de Comércio revelou que a economia cresceu apenas 0,6% (nível anual) no último trimestre de 2007, e admitiu que podem estar certos os economistas que prevêem "crescimento negativo" no primeiro trimestre.

- Isso, sem dúvida, indicará o início de uma recessão - disse Max Baucus, chefe da Comissão de Finanças do Senado, após anunciar o grupo decidiu abrir uma investigação sobre os motivos que levaram o governo a usar US$30 bilhões dos contribuintes para salvar o banco Bear Stearns.

Venda de casas novas caiu para menor nível em 13 anos

Também insatisfeitos, 60 manifestantes que se opõem à ação do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para resgatar o Bear invadiram ontem a sede do banco em Nova York. O grupo pedia ajuda aos endividados, não a Wall Street. Num discurso na Câmara de Comércio, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, disse que o socorro do Fed visava a "evitar uma paralisação desordenada" do sistema financeiro. Ao justificar a medida, disse:

- Seria prematuro chegar à conclusão que todos corretores do mercado ou outras financeiras importantes de nosso sistema deveriam ter acesso permanente ao dinheiro do Fed.

Reconhecendo que a situação é delicada, Paulson chegou a alertar o Fed para que averigüe a situação dos bancos que lhe pedem empréstimo, sob o risco de que tome um calote.

Outro índice que fez aumentar a preocupação foi a queda de 1,8% na venda de casas novas em fevereiro - pelo quarto mês, para o nível mais baixo em 13 anos. O número de casas em oferta (590 mil) representa o maior estoque em 26 anos. Além disso, o Departamento de Comércio informou que as encomendas de bens duráveis caíram 1,7% em fevereiro e previu que o declínio deve durar pelo menos três anos.