Título: Colômbia diz ter encontrado urânio das Farc
Autor:
Fonte: O Globo, 27/03/2008, O Mundo, p. 32

Material, segundo Bogotá, é do tipo empobrecido e pode ter sido adquirido para produção de bombas sujas

BOGOTÁ. O governo colombiano disse ontem ter encontrado, na periferia de Bogotá, 30 quilos de urânio empobrecido pertencentes às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O material, segundo fontes da inteligência colombiana, poderia ter sido adquirido para a produção das chamadas bombas sujas, que espalham radioatividade.

- O urânio foi encontrado em uma casa onde sabemos que já houve atividades de guerrilheiros das Farc, a partir de uma operação conjunta entre o Exército e a polícia - disse um porta-voz do Ministério de Defesa colombiano.

O governo colombiano já havia levantado a suspeita de que as Farc estavam comprando urânio, tendo como base documentos supostamente encontrados no computador de Raúl Reyes, número dois da guerrilha morto numa operação colombiana em território equatoriano no dia 1º de março. As Farc negaram em comunicado ter qualquer tipo de contato com urânio, alegando não ter tecnologia para seu manuseio nem interesse estratégico.

O medo de especialistas, no entanto, é que o urânio empobrecido, que não serve para a produção de armas atômicas, seja usado na fabricação de bombas sujas, que têm uma capacidade limitada, mas mortal, de disseminação de radioatividade. Bogotá afirma que a guerrilha tem interesse neste tipo de arma para potencializar seus atentados no país e intimidar o governo.

Bogotá diz que Farc estão atacando do Equador

Em meio ao anúncio da apreensão do urânio, o governo colombiano afirmou ontem que novos ataques das Farc estão sendo feitos a partir do território equatoriano. A denúncia é mais um episódio de tensão entre Bogotá e Quito, depois da ação militar colombiana contra as Farc no dia 1º de março e que resultou em uma das mais graves crises da América do Sul nos últimos anos.

- Nesta semana, as Farc continuaram disparando contra nossas tropas e contra os erradicadores de drogas a partir do território equatoriano. Isso fez com que não pudéssemos responder aos ataques. É por isso que estamos denunciando tal prática - disse o chanceler da Colômbia, Fernando Araújo, acrescentando: - Nenhum governo vai ficar de braços cruzados, sendo apenas testemunha do assassinato de seus soldados a partir de outros países.

Araújo também disse que Bogotá pediu à Justiça do Equador acesso a três mulheres que sobreviveram ao ataque contra as Farc em 1º de março. A Procuradoria busca a autorização para interrogar uma mexicana e duas colombianas que sobreviveram ao bombardeio que matou Raúl Reyes e outras 25 pessoas.

- As informações que elas têm podem ser de grande utilidade para a segurança de toda a região de fronteira. Se a assistência judicial entre os dois países é recíproca, como sempre aconteceu, teremos acesso a esses testemunhos tão importantes.

A tentativa das autoridades colombianas de interrogar as testemunhas também tem o objetivo de procurar esclarecer a presença no acampamento das Farc do equatoriano Franklin Aizalia, morto no ataque, o que provocou um enérgico protesto do governo do presidente equatoriano, Rafael Correa.