Título: Chávez faz convênios que beneficiam MST
Autor: Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 28/03/2008, O País, p. 3

Ao lado do presidente venezuelano, Stédile volta a atacar a Vale

SÃO LUÍS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, fez em São Luís o que mais gosta. Com um discurso recheado de ataques ao capitalismo, falou da sacada do Palácio dos Leões, sede do governo estadual, para um público estimado em duas mil pessoas, que se reuniu em praça pública exibindo bandeiras vermelhas e gritando palavras de ordem. Chávez assinou com o governador Jackson Lago (PDT) protocolos de intenções nas áreas da educação, agropecuária, saúde e meio ambiente. Um dos acordos beneficiará assentamentos do Movimento dos Sem Terra (MST) com um programa de alfabetização de adultos, baseado num método cubano que utiliza a TV como veículo de educação. Chávez disse, durante a cerimônia, que esse programa consegue fazer, em menos de dois anos, com que a pessoa aprenda a ler e a escrever.

O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, que foi ao Maranhão para acompanhar a visita de Chávez, também fez um discurso radical, só que na véspera, para a TV Cidade Aberta, uma emissora maranhense. Ele criticou o programa de reforma agrária do governo Lula que, segundo ele, carece de um movimento popular para enfrentar as "forças neoliberais" que dominam a agricultura no país. De quebra, também atacou grandes empresas, como a Vale, alvo de oito invasões realizadas desde março de 2007 pelos sem-terra. A mineradora obteve semana passada liminar da Justiça impedindo o MST e Stédile de incitar ou praticar atos violentos contra a empresa.

- Estamos passando um momento difícil, mas no futuro surgirão forças agrárias para realizar essa reforma. Somente a eleição do Lula não tem a força necessária para combater os grandes grupos econômicos, como a Vale do Rio Doce e o grupo Gerdau, por exemplo - disse Stédile.

Ontem, no mesmo tom, Chávez, em seu discurso, dispensou o tradutor e atacou o capitalismo. Recitou poemas e destacou a importância da cooperação bilateral entre o Brasil e a Venezuela, dizendo que os dois países são uma só pátria. Em apoio a Chávez, o governador Jackson Lago disse que o presidente da Venezuela está blindando a América Latina contra a cobiça e o espírito belicista dos "poderosos do Norte". E aproveitou para pedir que se instale uma refinaria de petróleo no Maranhão. Chávez respondeu que iria fazer gestões junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que a próxima refinaria da Petrobras seja instalada na capital maranhense.

Ao final dos discursos, os dois jogaram rosas para o povo, que desde a manhã aguardava a presença do presidente venezuelano. A presença de Chávez no Maranhão foi ignorada pelos políticos ligados à família Sarney. Do Maranhão, Chávez seguiu no fim da tarde de ontem para Belém.

(*) Especial para O GLOBO