Título: Cesar nega epidemia, mas apela ao Bonfim
Autor: Talento, Biaggio
Fonte: O Globo, 28/03/2008, Rio, p. 21

O "AEDES" ATACA: Prefeito acusa governo federal de esconder informações sobre vírus, atrapalhando a prevenção

"Vim pedir a Nosso Senhor que leve o mosquito da dengue em direção ao oceano", diz ele ao visitar igrejas em Salvador

O prefeito Cesar Maia trocou ontem a epidemia de dengue no Rio por uma breve passagem por Salvador para participar de um evento do DEM. De manhã, no Pelourinho, o prefeito visitou a Catedral Basílica e a Igreja de São Francisco. Foi rezar para que a epidemia que ele insiste em dizer que não existe termine logo:

- Vim pedir a Nosso Senhor do Bonfim que nos ajude, que leve o mosquito da dengue em direção ao oceano, que nos proteja. É uma energia muito forte que nós temos na Bahia, e eu vim aqui para levá-la para o Rio - disse Cesar em entrevista à TV GLOBO.

As perguntas sobre a epidemia predominaram nas diversas entrevistas que Cesar concedeu ontem para a imprensa baiana. Ele procurou jogar a responsabilidade do problema para o Ministério da Saúde, chegando a acusar o governo federal de esconder informações sobre a dengue do tipo 2 e 3, o que teria atrasado a preparação da rede de saúde do Rio para enfrentar a doença. Ironicamente, embora tenha jogado a culpa para o governo federal, disse que, quando ocorre um problema desse tipo, todos querem lavar as mãos:

- Isso é uma espécie de coqueluche nacional: quando tem um problema, todos são Pilatos: lavam as mãos e transferem responsabilidades.

Entretanto, seguiu a mesma linha que condenou, ao lembrar que caberia à esfera federal a coordenação do combate à dengue, por dispor de informações sobre todo o país. Como, na visão dele, não houve essa coordenação, o Rio não conseguiu se preparar a tempo para enfrentar os tipos mais letais da dengue.

- A questão trágica, que dói muito, é da dengue tipo hemorrágico 2 e 3 ocasionando óbitos de crianças. O Ministério da Saúde teve essa informação e se omitiu, ocultou essa informação - acusou, informando que as autoridades do Rio só souberam da letalidade do tipo 2 e 3 em crianças na segunda quinzena de março e através de técnicos da Fundação Osvaldo Cruz. - Hoje nós sabemos como atuar em relação a esses tipos de dengue, desde que a criança chegue num hospital nosso com afetação primária. Aí é possível salvar, não dá para salvar em estado terminal. Segundo o prefeito, o Ministério da Saúde deveria ter avisado a prefeitura do Rio em dezembro do ano passado.

Cesar procurou passar a idéia de que o problema da dengue é nacional.

- Ano passado, no Mato Grosso do Sul, os números foram extravagantes. Este ano está no Rio de Janeiro. Nós temos que tratar como uma epidemia nacional.

* Da Agência A Tarde