Título: Peso pesado no crédito imobiliário
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 28/03/2008, Economia, p. 29
Autorizado a usar recursos da poupança para financiar casa própria, BB quer emprestar R$2 bi
OBanco do Brasil (BB), maior instituição financeira do país, obteve ontem seu passaporte definitivo para o mercado de crédito imobiliário, que apresenta expansão superior a 20% ao ano e no qual sua participação é, atualmente, um traço. O Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou que o BB utilize 10% da captação de recursos para a poupança - hoje integralmente destinados ao segmento rural - no financiamento de imóveis. A injeção de recursos é tão significativa que o banco federal traçou metas ambiciosas. Com uma carteira atual de apenas R$350 milhões, pretende emprestar até o fim de 2008 mais R$2 bilhões, financiando o sonho da casa própria de cerca de 27,6 mil mutuários.
Atualmente, a Caixa Econômica domina 70% deste mercado de R$47 bilhões, segundo dados de fevereiro do Banco Central (BC), seguida do Itaú e do Bradesco. No entanto, cabe às instituições de controle estrangeiro - como HSBC e Santander - as maiores taxas de crescimento de participação (49,7% em 12 meses). Nesta corrida, o BB era retardatário.
Agora, a competição vai mudar e o BB avisa: quer figurar, em 2012, como o terceiro maior nesta categoria, com uma carteira de empréstimos entre R$4 bilhões e R$5 bilhões. O alvo da instituição são a classe média que recebe entre cinco e dez salários mínimos e a concessão de empréstimos no valor médio de R$85 mil. Centros urbanos e interior terão tratamento igualitário.
- Vamos entrar com taxas competitivas, a segurança do Banco do Brasil e vamos utilizar toda a nossa capilaridade para conquistar clientes. Queremos ter um produto que hoje nos falta e faz com que percamos clientes para outros bancos privados - afirmou Aldo Luiz Mendes, vice-presidente de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com os Investidores do BB.
Norma beneficia outros bancos
Há um ano o BB ensaia sua estréia neste mercado. Em abril do ano passado, tornou-se agente financeiro dos créditos habitacionais da Poupex (Associação de Poupança e Empréstimo do Exército). Em dezembro deu mais um passo, quando começou a financiar com recursos próprios imóveis para a classe A, trabalhando com casas e apartamentos avaliados acima de R$350 mil nas cidades de São Paulo, Rio e Brasília.
- Vamos focar nossa atuação entre as pessoas que ganham de cinco a dez salários mínimos - afirmou Paulo Caffarelli, diretor de novos negócios do BB.
O banco evitará, em um primeiro momento, entrar no nicho da Caixa, a classe com renda inferior a cinco salários mínimos.
- O mercado é grande e tende a crescer muito nos próximos anos - ponderou Mendes.
A norma do CMN beneficia também outros bancos, como os estatais Banco da Amazônia e Banco do Nordeste, além das instituições Bansicredi e Bancoob, ligadas a cooperativas, que só podiam usar os recursos da poupança em financiamentos rurais. No total, devem ser liberados à casa própria R$3,2 bilhões em 2008. Para se ter uma idéia do potencial, os contratos fechados no ano passado por todas as instituições movimentaram R$10,163 bilhões.
- O BB poderá ter R$1 bilhão para o financiamento imobiliário este ano (com os 10% da poupança rural). Vamos recorrer aos recursos do FGTS para atingir o objetivo de ampliar o crédito em R$2 bilhões - afirmou Caffarelli, referindo-se a um pleito de R$1 bilhão ao Fundo.
Já no ano passado o BB informou à Caixa Econômica (agente operador do FGTS) que pretendia oferecer empréstimos habitacionais com recursos do Fundo. Mas, para entrar nesse mercado, teria de constituir uma carteira hipotecária, o que, a partir desta resolução do CMN, será possível. Segundo fontes da Caixa, o BB ainda não formalizou o seu pedido. Neste ano, o FGTS destinou à habitação R$9,4 bilhões. Todos os bancos já fizeram seus pedidos e agora resta saber se ainda há disponibilidade para acomodar o BB.
Empréstimo rural terá mais dinheiro
Mendes adiantou ainda que, assim que o BC liberar a operação do crédito imobiliário com recursos da poupança, o BB fará uma grande campanha publicitária para anunciar sua entrada no financiamento da casa própria.
A norma do CMN autoriza os demais bancos do país, que só podem destinar os recursos das poupanças que administram para o financiamento habitacional, a utilizarem 10% do volume com o crédito rural. Isso manterá o equilíbrio do sistema. Estima-se que podem ser liberados para destinação ao campo R$12 bilhões.
Além disso, o CMN decidiu padronizar a remuneração dos recursos da poupança que os bancos deveriam emprestar e não conseguem. O dinheiro, que é depositado no BC, sofrerá correção da TR.