Título: BC já prevê inflação acima da meta este ano
Autor: Duarte, Patrícia; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 28/03/2008, Economia, p. 31

Projeção é que IPCA subirá 4,6%. Banco Central alerta que age de forma preventiva e mercado espera alta de juros

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. Com o consumo doméstico crescendo na casa dos 7% ao ano, impulsionado pelo crédito farto e pela renda em alta, o Banco Central (BC) projeta pressão cada vez maior sobre os preços e já antecipa uma inflação ligeiramente acima da meta este ano. Segundo o primeiro Relatório de Inflação de 2008, a alta de preços medida pelo IPCA fechará 2008 em 4,6%, contra 4,3% na previsão feita em dezembro e acima da meta central de 4,5%.

O BC também elevou sua projeção para o crescimento da economia este ano, de 4,5% para 4,8%. Diante desse cenário, a instituição lembrou que sua função é prevenir, não remediar - e, com isso, deu ao mercado a certeza de que está perto de elevar os juros básicos.

- Os bancos centrais têm de atuar de forma preventiva. Em geral, o banco central que espera a inflação divergir muito da meta para atuar acaba tendo que atuar de forma muito intensa, por muito tempo, o que tende a ser danoso do ponto de vista da atividade econômica - avisou o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita.

Mesquita lembrou ainda que outros países, como Chile e México, aumentaram seus juros mesmo neste momento de turbulência externa e de taxas decrescentes nos países desenvolvidos, especialmente nos EUA.

Consumo e investimentos também devem ser maiores

No mercado, aumentou a expectativa de que o BC voltará a subir os juros em abril, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Desde abril de 2005 o BC não aumenta os juros. Para o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, a Selic fechará este ano a 13,25%, dois pontos percentuais acima do atual patamar, de 11,25%.

O BC também alterou sua projeção para o crescimento do consumo das famílias, de 5,9% para 6,8% neste ano. E aumentou sua previsão para o avanço dos investimentos, de 10,4% para 11,9%. Mesquita salientou que ainda existem desequilíbrios:

- Nosso entendimento é que o balanço de riscos continuou se deteriorando.

O diretor, no entanto, não quis comentar as medidas que o governo estaria estudando para inibir o uso do crédito, como reduzir prazos de financiamento. Ele afirmou apenas que o BC não "pré-anuncia" possíveis medidas.

Mesquita tentou ainda mitigar o problema. Ele argumentou que, na formação do IPCA, os bens de consumo duráveis - geralmente adquiridos via crédito - respondem por menos de 10% do indicador.

Mantega diz que não está preocupado com a inflação

A despeito das projeções divulgadas pelo BC, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que não há pressões inflacionárias e que existe equilíbrio entre oferta de produtos e demanda no mercado interno.

- Não há preocupação com a inflação em 2008. Também não estou preocupado com 2009 - disse o ministro, depois de participar, em São Paulo, de reunião com os presidentes de Volkswagen, GM, Ford e Fiat no país.

Segundo Mantega, a inflação em 2007 foi puxada basicamente por alimentos, problema que não deve se repetir este ano:

- Não há problema de falta de oferta. Oferta e demanda estão equilibradas.

Entretanto, na reunião que teve com os executivos das montadoras, Mantega expressou sua preocupação com a alta dos preços do aço. Como resposta, o ministro ouviu das montadoras que o setor "acompanha com cuidado" o assunto, e não descarta repassar esse custo para os preços dos automóveis.

A pedido do Ministério da Fazenda, o BNDES fez um levantamento sobre possíveis gargalos em diferentes setores e não encontrou restrições de oferta, disse ontem o presidente do banco, Luciano Coutinho:

- Dos setores que o ministro trouxe aqui, não detectamos gargalos em qualquer deles. Os dados apontam a criação robusta da capacidade produtiva, que, do nosso ponto de vista, dissolve preocupações com potencial de impacto inflacionário.