Título: Lula: Bush, meu filho, resolve a sua crise
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 28/03/2008, Economia, p. 33

AMEAÇA GLOBAL: "Se os Estados Unidos precisarem, poderemos mandar essa tecnologia", afirmou ele, citando o Proer

Presidente conversa com colega americano sobre turbulência e diz que Brasil pode ensinar EUA a salvar bancos

RECIFE. "Bush, o problema é o seguinte, meu filho. Nós ficamos 26 anos sem crescer. Agora que a gente está crescendo, vocês vêm atrapalhar? Resolve a sua crise". Foi assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descreveu, para cerca de 200 empresários que participavam em Pernambuco do Fórum de Negócios Brasil-México, a conversa que teve por telefone com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. O objetivo da ligação foi comentar sua preocupação com os reflexos da crise de crédito dos Estados Unidos na economia brasileira. De quebra, ainda sugeriu oferecer o modelo brasileiro de salvar bancos falidos ou em crise para os Estados Unidos, referindo-se ao Proer (criado em 1995 para socorrer as instituições que perderam receita com o fim da inflação):

- O Brasil tem know-how para salvar banco, é só criar um Proer. Se ele (Bush) quiser, pode vir ao Brasil, e tem gente que pode ensinar, eu não vou ensinar, mas tem gente que pode ensinar como é que se salva um banco. O Brasil tem know-how, e acho que se eles precisarem nós poderemos mandar essa tecnologia para eles.

Lula disse que a economia brasileira está sólida e que a pobreza vem se reduzindo com seus programas sociais e com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas destacou que tem duas grandes preocupações: a crise nos EUA e a manutenção da auto-estima do empresariado brasileiro.

"Precisamos fazer o dinheiro circular", diz presidente

Lula disse que o Brasil vive hoje um capitalismo moderno, que em cinco anos saiu de um volume de créditos de R$300 bilhões para R$1 trilhão. Destacou que os créditos agrícolas pularam de R$2 bilhões para R$10 bilhões e que, com o crédito consignado, em pouco mais de quatro anos havia R$50 bilhões em circulação no país.

- Cunhei o aprendizado de que o dinheiro, mesmo que pouco na mão de poucos, é distribuição de renda; muito na mão de poucos é concentração. Precisamos fazer o dinheiro circular - disse.

Ele repudiou as críticas ao Bolsa Família.

- O cara que janta em restaurante de luxo e dá R$50 de gorjeta não tem dimensão de quanto vale R$50 na mão de um pobre.