Título: Oposição insiste em convocar Dilma para CPI
Autor: Camarotti, Gerson; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 31/03/2008, O País, p. 3

Parlamentares reagem com indignação à afirmação da ministra de que "tem mais a fazer"

BRASÍLIA. A oposição tenta se armar para furar a blindagem da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Em minoria na CPI do Cartão Corporativo, os oposicionistas já estudam novas estratégias para tentar obrigá-la a dar explicações sobre o suposto dossiê de gastos sigilosos do governo Fernando Henrique. A principal alternativa em análise é a apresentação de um novo requerimento de convocação da ministra - desta vez, para ser votado no plenário do Senado. Ontem, parlamentares do PSDB e do DEM reagiram com indignação às críticas de Dilma à CPI e à afirmação da ministra de que "tem mais a fazer" do que depor sobre o uso dos cartões e o vazamento de despesas do governo tucano.

- A ministra Dilma não respeita o Congresso, acha que a CPI não tem importância. Ela revelou mais uma vez seu autoritarismo e falta de apreço pelas instituições democráticas - atacou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Os governistas têm maioria na Casa, mas a oposição avalia que o surgimento de novos indícios de participação da Casa Civil na montagem de um dossiê contra o governo tucano pode levar aliados a apoiarem a convocação da ministra. Outra alternativa em estudo é a apresentação de requerimentos nas comissões permanentes do Senado. Se esses planos falharem, restaria ressuscitar a idéia de uma CPI exclusiva, sem a participação dos deputados e com uma correlação de forças mais equilibrada. A opção é defendida pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que tem criticado a escalação de representantes do chamado baixo clero da Câmara para defender o governo a qualquer preço na CPI.

- Já temos as assinaturas necessárias. Continuaríamos em minoria, mas a discussão seria travada em outro nível, com gente que tem biografia a preservar - afirmou.

Demóstenes elevou o tom dos ataques a Dilma por ela ter dito que, se convocada, não pretende depor sobre o suposto dossiê.

- Já ficou provado que ela reuniu os servidores da Casa Civil na montagem de um dossiê para constranger a oposição. Se a convocação for aprovada, a ministra não terá opção. Ela é uma servidora pública e não está acima da lei - afirmou.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) preferiu ironizar a declaração de Dilma de que perderia tempo no Congresso e que prefere ficar no Palácio do Planalto se dedicando ao Plano de Aceleração do Crescimento (PAC):

- A ministra só perde tempo ao fazer relatórios sobre gastos do governo passado que já foram auditados pelo Tribunal de Contas da União.

Ontem, a II Conferência Nacional do PSOL aprovou moção em que exige esclarecimentos sobre o suposto dossiê com gastos da Presidência da República. O senador José Nery (PA), que representa o partido na CPI, promete insistir na convocação de Dilma esta semana.