Título: Mais uma versão sobre o dossiê
Autor: Camarotti, Gerson; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 31/03/2008, O País, p. 3

Planalto agora admite que relatório existe e culpa "alguém de dentro que resolveu fazer o mal"

Na tentativa de minimizar o estrago do vazamento do dossiê com gastos de contas B do ex-presidente Fernando Henrique, e diante das negativas do Tribunal de Contas da União (TCU) de que teria pedido informações sobre tais gastos, o Planalto apresentou ontem nova versão sobre o caso: admitiu, pela primeira vez, a elaboração do dossiê, mas alegando que o documento foi montado sem autorização por alguém com o objetivo de atingir a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e enfraquecer Lula, além de acirrar os ânimos entre governo e oposição.

O núcleo do governo decidiu partir para o enfrentamento e proteger ao máximo a ministra. A decisão partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deixou claro que não vai abrir mão de Dilma no Planalto, como aconteceu com os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, fez uma primeira avaliação do caso ontem com o ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social, e deverá se reunir hoje com Lula para definir a estratégia a ser adotada sobre o ataque à ministra Dilma.

Essa é a terceira versão apresentada pelo Planalto em uma semana. A primeira foi a de que os dados foram solicitados pelo TCU, versão abandonada e depois retomada por Dilma, no sábado. Num segundo momento, o governo alegou que fazia um levantamento preventivo para fornecer à CPI. Agora, admite que informações foram pinçadas do banco de dados.

Ao analisar as 13 folhas que integram o relatório, a cúpula do Planalto reconheceu, de forma reservada, que os dados eram direcionados. Isso fica claro pelo fato de o dossiê destacar nomes como o da ex-primeira dama Ruth Cardoso, de usar uma linguagem diferenciada de um banco de dados e não estar na ordem cronológica.

- Usaram o banco de dados com o intuito de fazer mal ao governo, e fizeram. Está claro que o relatório foi tirado do banco de dados. Alguém de dentro do Planalto resolveu fazer o mal. Esses dados foram vazados por alguém do governo. O banco de dados estava sendo montado caso a CPI precisasse. Mas esse banco de dados não era direcionado. O governo agora está procurando saber quem foi que fez isso. Claro que foi alguém da equipe com o objetivo de acirrar o ânimo entre governo e oposição. Foi pura maldade - disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Lula: "Chance de Dilma sair é zero"

A decisão de admitir publicamente que os dados partiram da Casa Civil tem como objetivo evitar o efeito Palocci, quando em 2006, o então ministro da Fazenda caiu depois que houve o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Palocci negou o vazamento de dados.

Na CPI do Cartão, a ordem é não deixar Dilma ser convocada. O relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ) voltou a declarar que não há razões para isso e o que deve ser feito é a busca dos que vazaram informações sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique. E reclamou do fogo amigo:

- Lamento profundamente que num momento em que Dilma vem sendo atacada pela oposição, militantes históricos do PT ataquem a ministra e se somem aos que querem enfraquecê-la. Cometem um erro grave, porque a ministra está sendo atacada pelo que simboliza: é a mais forte ministra do PT no governo e alternativa à sucessão do presidente Lula.

Lula não esconde a preferência pelo nome de Dilma para sua sucessão em 2010. E admite em conversas reservadas que, ao dar-lhe grande exposição, transformou a ministra em vidraça. A um petista próximo, Lula teria sido taxativo no fim de semana:

- O risco de Dilma deixar o governo é zero!