Título: PT escolhe Molon, que quer Lula só para ele
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 31/03/2008, O País, p. 4

Em eventos no Rio hoje, deputado dividirá atenção do presidente com Jandira Feghali (PCdoB) e Crivella (PRB)

O PT escolheu ontem o nome do deputado estadual Alessandro Molon como candidato do partido à sucessão municipal, por ampla maioria (69% contra 31% de Vladimir Palmeira). Será mais um no rol de concorrentes à atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, Molon, Jandira Feghali (PCdoB) e Marcelo Crivella (PRB) dividirão as atenções de Lula no Rio, estreando o quadro que espera pelo presidente nas eleições municipais deste ano. Com o agravante de que Molon dá como certa a exclusividade do presidente.

Diferentemente dos outros pré-candidatos, que apostam na neutralidade do presidente, Molon diz que o lugar de Lula é a seu lado:

- O presidente tem partido. E é o PT. Eu serei o candidato do partido do presidente. Tenho certeza de que o palanque do Lula no Rio será o meu.

Hoje, Lula participa da cerimônia de início das obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio, e do ato de início das obras do PAC na Baixada Fluminense, em Duque de Caxias. Jandira e Molon argumentam que acompanhar o presidente é usual em suas agendas. Jandira, que aparece com 18% das intenções de voto na pesquisa Datafolha divulgada ontem, diz que Lula deve se manter imparcial até perceber qual a candidatura aliada com mais chances de ganhar. Ela lembra ainda que o PCdoB apóia Lula desde 1989.

- O que acho é que nem eu nem ninguém pode falar pelo Lula. Ele tem que mirar o alvo: fechar o ciclo conservador na cidade. Mas não pode correr o risco de uma derrota no Rio. Não pode errar a mão - disse ontem Jandira.

Procurado, o senador Marcello Crivella não retornou as ligações do GLOBO. Na semana passada, no dia seguinte ao anúncio do acordo entre Cabral e Lula em torno da candidatura de Molon, Crivella recorreu ao vice-presidente José Alencar, com um apelo pela neutralidade do presidente.

A disputa pelo apoio de Lula mostra o caráter nacional que vem ganhando a campanha carioca. De olho em 2010, a arena inclui o PSDB nacional, que se esforçou para garantir a aliança com o PV do deputado federal Fernando Gabeira e com o PPS. Gabeira, no entanto, acha que o debate em torno de questões nacionais não deve fazer parte da campanha municipal:

- Seria negativo para o Rio se transformar em um símbolo da campanha nacional. Temos problemas seriíssimos na cidade e perderíamos o foco.

- Eu vou fugir desse debate nacional. Ele não ajuda em nada a cidade - concorda a pré-candidata do DEM à prefeitura, Solange Amaral.

Molon, que começou sua campanha interna no PT do Rio como azarão, venceu as prévias com uma diferença de 3.039 votos. A candidatura do deputado será homologada na convenção do partido, em junho. Do total de 8.173 filiados que votaram, 5.606 escolheram Molon e 2.567, Vladimir. Depois da divulgação do resultado, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que concorrerá com o peemedebista Nelson Bornier à reeleição e apoiava Vladimir, anunciou:

- Vamos entrar todos de cabeça na campanha de Molon.

Durante a votação, em Ipanema, Zona Sul do Rio, Molon afirmou que os filiados do PT "devem se encher de alegria" com o apoio declarado de Cabral à sua pré-candidatura.

Molon conta com os padrinhos Cabral e Lula e com o tempo de TV para turbinar sua posição nas pesquisas. Na última, feita pelo Datafolha e publicada ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo", ele aparece com apenas 1% das intenções de voto.

- A pesquisa ainda não registrou os efeitos do anúncio do apoio do governador. Minha candidatura sequer tinha sido lançada quando ela foi a campo - avalia Molon.

A pesquisa Datafolha apontou Crivella em primeiro lugar, com 20%, seguido por Jandira, com 18%. Em terceiro apareceu o secretário estadual de Esportes, Eduardo Paes - que saiu do páreo depois do anúncio do apoio de Cabral a Molon -, com 10%. Gabeira registra também 10%, seguido por Solange Amaral, com 9%. O deputado federal Chico Alencar (PSOL) aparece com 7%.

Jandira diz que seu nome está consolidado no eleitorado:

- A minha candidatura sequer está lançada. Mas existe uma identidade da sociedade comigo.

Solange Amaral também comemorou:

- Acho espetaculares os número, já que ainda nem lançamos a campanha.

Para Gabeira, ainda não é possível fazer análise sobre a pesquisa, porque o momento é muito "inicial".