Título: Militar carioca está na arbitragem da disputada corrida ao fundo do mar
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 31/03/2008, Economia, p. 17

TESOURO SUBMERSO: Brasil é uma das nações a questionar fronteiras marítimas

Alexandre Tagore comanda a comissão que analisa reivindicações de países

As ambições econômicas de países como Brasil, Austrália, Nova Zelândia, Noruega, México, França-Irlanda e Espanha-Reino Unido estão nas mãos do capitão-de-fragata reformado da Marinha do Brasil Alexandre Albuquerque Tagore. Caberá a esse carioca de 67 anos, hidrógrafo por formação, analisar a demanda dos países interessados em ampliar a soberania sobre a plataforma continental, além das 200 milhas náuticas. Tagore é o primeiro brasileiro a assumir a presidência da Comissão de Limites da Plataforma Continental, grupo das Nações Unidas (ONU) responsável por analisar os limites exteriores dos países costeiros.

A corrida ao fundo do mar só não está num ritmo mais acelerado porque Tagore e os 21 membros da comissão ainda não deram sinal verde a nenhum dos pedidos encaminhados à comissão. O primeiro país a solicitar expansão da fronteira submarina foi a Rússia. O pedido voltou porque os russos têm divergências de fronteiras marítimas com alguns estados no Ártico e no Pacífico e a comissão recomendou que as pendências fossem resolvidas.

O pedido seguinte foi o do Brasil, aceito parcialmente. A comissão pediu esclarecimentos quanto a uma área de 20% a 25% do total da região reivindicada, de 960 mil quilômetros quadrados, ao longo da costa e ao redor das ilhas brasileiras no Atlântico. Cabe agora ao governo brasileiro apresentar sua réplica. Só que tudo indica que o Brasil continuará insistindo no pleito inicial, avalia Tagore:

- Não temos poder de negar, nem de aprovar as propostas. Fazemos recomendações.

O trabalho de Tagore é recomendar, com base em dados fornecidos pelos próprios países, quem tem direito sobre que pedaço do solo marítimo. Só que ele tem consciência de que o que está em jogo é dinheiro, muito dinheiro. Algumas das áreas disputadas do Ártico, por exemplo, podem conter até 25% das reservas mundiais de petróleo e gás do mundo.

- Somos um país agrícola, mas, como não temos reservas de fosfato, o país importa US$1 bilhão ao ano desse mineral - calcula Kaiser Gonçalves, do serviço de geologia da Divisão de Geologia Marinha da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), explicando a importância econômica dessa corrida ao fundo do mar.