Título: Alertas anti-Farc são ignorados
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Fonte: O Globo, 31/03/2008, O Mundo, p. 21

Colômbia teria passado informações a 6 países, entre eles Brasil, sobre guerrilheiros

Ogoverno da Colômbia teria alertado o Brasil em sete diferentes ocasiões sobre as possíveis presenças de membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e atividades da guerrilha em território nacional, de acordo com reportagem publicada ontem no "El Tiempo", com base em informações oficiais "confidenciais" obtidas pelo jornal colombiano. Os alertas, feitos também a outros cinco países, teriam se iniciado em 2004.

A reportagem do "El Tiempo" sustenta que, desde 2004, a Colômbia vem alertando Brasil, Equador, Venezuela, Argentina, Peru e Bolívia sobre atividades das Farc em seus territórios com o objetivo de contar com o apoio desses países no combate aos guerrilheiros. A reportagem não menciona a reação brasileira, mas informa que "80% dos alertas foram respondidos com evasivas ou simplesmente não foram levados em conta" pelos vizinhos. Destaca ainda que Venezuela, Equador e Argentina nada fizeram mesmo quando tinham informações precisas sobre a localização de acampamentos guerrilheiros e a presença de reféns ou líderes das Farc em seu território.

O Itamaraty informou ontem desconhecer qualquer invasão recente das Farc em território brasileiro. O governo sabe que, no passado, já ocorreram incursões do grupo nas regiões desabitadas da fronteira entre os dois países. Nessas áreas de floresta, cabe aos pelotões do Exército vigiar e repelir ações das Farc ou de qualquer outra força estrangeira. O Itamaraty não especificou quando teriam ocorrido essas incursões, mas afirmou que daria mais detalhes sobre a situação hoje. Incursões das Farc em território brasileiro perto da fronteira já foram registradas oficialmente em pelo menos duas ocasiões, em 1991 e em 2002.

Ao todo, ao longo desse período, teriam sido emitidos 43 alertas. Além dos sete ao Brasil, foram 16 ao Equador, dez à Venezuela, quatro à Argentina e ao Peru e dois à Bolívia.

Ex-senadora teria estado na Venezuela

Os alertas incluíram informações sobre a presença da refém Ingrid Betancourt e a do líder das Farc, Manuel Marulanda, na Venezuela. "Em 17 de dezembro de 2007, o alerta emitido à Venezuela foi sobre a presença de Ingrid Betancourt em uma fazenda em Elorza, que fica no estado de Apura, na fronteira com a Colômbia", precisou o jornal, que citou um comunicado dos serviços de inteligência do Departamento Administrativo de Segurança (DAS).

O jornal acrescentou que "as autoridades venezuelanas reconheceram a presença das Farc em Elorza, mas disseram não ter informações de que Ingrid estaria no país".

Outro comunicado, enviado pela Colômbia à Venezuela em 15 de fevereiro deste ano, alertava para a presença em território venezuelano do líder das Farc, Manuel Marulanda, codinome de Pedro Antonio Marin.

O maior número de alertas, no entanto, foi feito ao Equador. Entre os comunicados, se destacam informações sobre a presença de acampamentos das Farc em território equatoriano. Em 26 de novembro do ano passado, a Colômbia enviou ao Equador informações sobre a localização exata de 25 bases guerrilheiras em solo equatoriano.

Ainda, de acordo com o jornal, "nem a Venezuela, nem o Equador responderam positivamente às informações passadas", mesmo quando o DAS enviou a Quito dados específicos sobre o paradeiro do falecido número dois das Farc, Raúl Reyes, em um acampamento em Santa Rosa de Sucumbios.