Título: Tensão na chegada da tocha olímpica a Pequim
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 31/03/2008, O Mundo, p. 22

Governo reduz e antecipa cerimônia. Merkel diz que não participará da abertura dos Jogos, mas Alemanha nega boicote

PEQUIM. Num momento em que crescem os protestos mundiais contra a repressão ao Tibete e com medo de manifestações que possam estragar a cerimônia de chegada da tocha olímpica, hoje, em Pequim ¿ uma festa que vai inaugurar a viagem do símbolo olímpico por 23 cidades de cinco continentes e pela China nos próximos meses ¿, o governo chinês reduziu o tempo da cerimônia, a ser realizada na Praça da Paz Celestial, e aumentou a segurança na área, limitando o acesso do público a uma celebração que, em tese, é feita em seu nome.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, anunciou que não comparecerá à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, tornando-se a primeira líder mundial de peso a tomar a medida, informou ontem o jornal ¿The Guardian¿. Na semana passada, o premier polonês, Donald Tusk, e o presidente da República Tcheca, Vaclav Klaus, anunciaram que boicoteariam a abertura. O ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier, confirmou que Merkel não comparecerá, mas negou que se trate de boicote ou protesto político. A decisão, no entanto, pode influenciar outros líderes mundiais, acrescentou o jornal.

Governo não informa roteiro do evento

A festa da chegada da tocha estava marcada para começar às 12h de hoje (hora local) e previa discursos de autoridades e shows de cunho patrióticos de artistas chineses populares. Mas as ameaças de boicote e o clima de protesto em que se transformaram os jogos fizeram o governo alterar a celebração, que vai acontecer às 10h. A festa vai durar apenas uma hora.

Não se sabe até agora quem participará da cerimônia e qual será o roteiro do evento, mas os arredores da praça da Paz Celestial ¿ palco do massacre que, em 1989, matou cerca de dois mil estudantes que pediam democracia ¿ já estão devidamente cercados, e telões de alta definição foram instalados em pontos estratégicos para que as pessoas não tenham a necessidade de ir até a maior praça de concreto do mundo. Ontem à noite, os policiais já se posicionavam na Praça da Paz Celestial e próximo da Cidade Proibida, no Centro de Pequim.

Ontem, em Atenas, numa cerimônia marcada por um pesado esquema de segurança, Minos Kyriakou, presidente do Comitê Olímpico Helênico, passou a tocha olímpica para Liu Qi, presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Pequim. Quinze manifestantes foram presos antes da cerimônia, a maior parte integrante do grupo Estudantes por um Tibete Livre, baseado em Nova York.

No Rio, críticas à execução de dissidentes

Indignados com a repressão do governo chinês às manifestações pró-independência do Tibete, um grupo de cariocas liderados pelo fotógrafo e documentarista Marcos Prado e pelo cantor Leoni protestou na manhã de ontem, na Avenida Delfim Moreira, no Leblon. Segurando bandeiras do país e empunhando cartazes, o grupo distribuiu panfletos e tarjas pretas às pessoas que passavam pelo local.

¿ A China utiliza trabalho escravo e promove execuções. É incrível como a maior parte dos governantes não se manifesta quanto a isso ¿ disse Prado, que esteve no Tibete três vezes.

Com Agências internacionais

COLABOROU Isabel Kopschitz, Rio

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