Título: Dilma admite que secretária levantou dados sigilosos de FH
Autor: Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 29/03/2008, O País, p. 3

A MÃE DO PAC NA BERLINDA

Mas ministra chama dossiê de "banco de dados" e mantém a assessora

Ao lado do presidente Lula em palanques de lançamentos de obras no Nordeste, a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu ontem que sua secretária-executiva, Erenice Alves Guerra, fez levantamento de gastos do ex-presidente Fernando Henrique e de dona Ruth Cardoso na Presidência, como informou ontem a "Folha de S.Paulo". Dilma alegou, porém, que o trabalho é um "banco de dados" e não um dossiê, e deu sinais de que não pretende demitir a assessora. Quando o escândalo estourou, no fim de semana, a Casa Civil alegara que levantou os gastos a pedido do Tribunal de Contas da União (TCU), que nega.

- Há uma afirmação de que fizemos um dossiê. Fizemos um banco de dados, que é fundamental, porque um arquivo morto é composto de pastas empilhadas. O que foi feito foi um banco de dados. É óbvio que a parte administrativa da Casa Civil é dirigida pela doutora Erenice. Então, o que a doutora Erenice afirmou na matéria foi a mesma coisa que estamos falando desde a "Veja". Fizemos um banco de dados. Provem que não é um banco de dados! Provem! Não fiquem assacando contra nada! - desafiou Dilma, que manteve no cargo sua secretária e braço direito desde que era ministra de Minas e Energia. Mas ela não explicou por que o "banco de dados" não tem ordem cronológica e inclui gastos com bebidas, lixas de unha e veludo alemão, por exemplo.

Em Delmiro Gouveia, onde lançou obra ao lado de Lula, a "mãe do PAC" chamou de "escandalização do nada" a divulgação do dossiê.

- Afirmamos que é um banco de dados e que a quantidade de informação que temos no banco de dados é 20 mil vezes maior que um dossiê. E são essas informações que estão armazenadas na Casa Civil, seja para fornecer para a CPI, se isso for pedido e se for decidido, sob responsabilidade de sigilo da CPI, seja para informar ao TCU, que audita essas informações. O governo não tem interesse de vazar isso. Isso é uma escandalização do nada.

Dilma prometeu apuração:

- Esses dados foram vazados. É um ato irregular e criminoso. Vamos apurar quem vazou. Talvez existam pessoas interessadas em criar atritos.

Mas depois, perguntada sobre os interessados nos "atritos", respondeu:

- Se estão interessados em apurar mais profundamente esse episódio, seria oportuno que aqueles que divulgaram informações do banco de dados da Casa Civil viessem a público e assumissem. O estranho é sermos nós, que não divulgamos, que fomos objeto de vazamento, sermos aqueles que estão sendo responsabilizados.

Para ela, o "banco de dados"continuará a existir de "forma tranqüila":

- Quando houver a necessidade de fazer informações oficiais, faremos, desde que respeitados os procedimentos regulamentares, tais como sigilo de alguma informação.

À tarde, a Casa Civil divulgou nota em que nega que o governo tenha preparado um dossiê contra adversários e afirma que as informações são "fragmentos de uma base de dados em fase de digitação para alimentação do Suprim - que visa unicamente a organizar os dados relativos aos gastos com suprimento de fundos desde 1998 até hoje".

O documento, que só foi divulgado depois que Dilma desembarcou em Brasília e foi para seu gabinete no Planalto, classifica de maliciosa a informação da "Folha", que atribui à sua secretária-executiva a responsabilidade pela confecção do suposto dossiê.

A nota também nega uma suposta reunião que teria sido convocada por Erenice para organizar uma força-tarefa para fazer o dossiê.