Título: Planalto muda versão sobre TCU e diz desconfiar de tucanos e petistas
Autor: Camarotti, Gerson; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 29/03/2008, O País, p. 4
A MÃE DO PAC NA BERLINDA: Auxiliares do presidente tentam minimizar crise
Tarso descarta investigações: "Não apontaram nenhum fato delituoso"
BRASÍLIA. Para tentar conter a nova crise no Palácio do Planalto, por causa da denúncia de que o braço-direito da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), Erenice Guerra, preparou o dossiê sobre os gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique, o governo passou a lançar suspeitas sobre o vazamento das informações secretas. O vazamento teria como objetivo atingir Dilma, um dos nomes de Lula para a sucessão presidencial de 2010. O governo descartou, porém, uma investigação da Polícia Federal, diferentemente do que ocorreu há dois anos, quando houve investigação policial para apurar a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, que culminou na saída de Antonio Palocci do governo.
Desde o início da manhã, o Planalto procurou minimizar a denúncia contra a secretária-executiva da Casa Civil, desqualificando as reportagens da "Veja" e da "Folha de S.Paulo". Auxiliares diretos do presidente disseram que não há crise no governo, e repetiram, ao longo do dia, que não foi produzido dossiê contra o governo FH. Mas o núcleo do governo decidiu abandonar a primeira versão de que o levantamento dos gastos da gestão tucana havia sido solicitado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o que não se sustentava.
Com o discurso de que o erro não foi fazer um banco de dados, mas o seu vazamento, o Planalto passou a investigar internamente duas suspeitas. A primeira linha é de que foi uma ação deliberada de caciques do PSDB que teriam informantes no governo. Ministros lembravam que o conteúdo do suposto dossiê não prejudica ninguém do governo passado. Mas os palacianos também suspeitam que o vazamento partiu do fogo amigo para enfraquecer Dilma.
De Fortaleza, onde estava ontem, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, classificou de "criminosa" a ação de divulgar dados sigilosos do governo anterior.
- Há pessoas interessadas em desestabilizar o governo e a ministra Dilma. A Erenice é braço direito e pessoa de confiança da ministra. E tinha a função burocrática de juntar dados que ficassem disponíveis se a CPI pedisse - disse o ministro José Múcio: - Alguém, de forma criminosa, resolveu soltar os dados para prejudicar o governo.
A saída de Erenice foi descartada, com a alegação de não fez nada de errado. O "risco de demissão é zero", disse um ministro, afirmando que o banco de dados continuará sendo alimentado, porque é instrumento de gestão. Ela trabalhou ontem em sua sala no quarto andar do Palácio do Planalto e não atendeu a pedidos de entrevista.
- A ministra Dilma fica do jeito que está. E Erenice também. Afinal, qual o crime que a Erenice cometeu? - disse Múcio.
Tarso descarta investigação da PF, como quer oposição
O ministro da Justiça, Tarso Genro, descartou de forma enfática a possibilidade da Polícia Federal investigar o vazamento de informações, como solicitou a oposição.
- Esse é um fato que está no âmbito de um contencioso político entre governo e oposição e os órgãos de investigação do Estado brasileiro não podem servir de instrumento para luta política. Aqui não está sendo apontado nenhum fato delituoso - disse Genro.
Na manhã de ontem, em conversas com políticos aliados em Recife, Dilma demonstrou estar irritada com a repercussão do caso. Segundo um aliado petista, o vazamento dos dados fugiu ao controle do Planalto.
Lula chegou de Maceió no fim da tarde e seguiu direto para a Granja do Torto, onde descansará neste final de semana. Aos ministros que o procuraram, ele manifestou tranquilidade e disse:
- Vamos seguir em frente.
COLABORARAM: Chico de Gois e Bernardo Mello Franco