Título: DEM destila ódio e PSDB é amigo, diz Lula
Autor: Rios, Odilon
Fonte: O Globo, 29/03/2008, O País, p. 14

A MÃE DO PAC NA BERLINDA: Para ele, DEM mudou de nome por vergonha; Dilma é chamada pelo povo de presidente

Depois de defender Severino, presidente também defende Renan, que foi vaiado durante comício em Alagoas

DELMIRO GOUVEIA (AL). Depois de defender, em Pernambuco, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Severino Cavalcante, que renunciou em 2005 sob a acusação de receber propina para prorrogar a concessão de um restaurante, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o mesmo ontem, no sertão de Alagoas, com o senador Renan Calheiros (PMDB/AL). Renan renunciou à presidência do Senado ano passado, após ser acusado de ter contas pessoais pagas por um lobista de empreiteira e de ter usado laranjas para comprar fazendas.

Renan discursou antes de Lula, foi vaiado e reagiu:

- A oposição chia muito, mas é um direito da democracia. As pessoas precisam prestar contas de suas ações. Há pessoas que só sabem fazer críticas - afirmou.

Em seguida, Lula defendeu o "companheiro", como chamou Renan, e afirmou que as pessoas "não precisam aceitar que as denúncias dos nossos adversários virem verdades absolutas para que nossos amigos virem adversários".

- Eu terei muita vergonha de ser denunciado por um erro, por uma mulher ou por um homem honestos. Teria muita vergonha e talvez nem sairia na rua. Mas não vou permitir que alguém, que não tenha moral de fazer crítica a alguém, possa fazer com que eu rompa a amizade com o companheiro que me ajudou durante tanto tempo, como o companheiro Renan Calheiros ajudou no Senado da República - afirmou o presidente, fazendo com que Renan sorrisse.

O presidente foi ontem a Alagoas pela primeira vez depois da reeleição em 2006. Em Delmiro Gouveia, lançou o programa Territórios da Cidadania, que prevê investimentos superiores a R$400 milhões no estado para agricultores, assentados, pescadores, comunidades quilombolas e indígenas.

Em Alagoas, elogios aos tucanos Serra e Teotonio

Antes, o presidente sobrevoou o Canal do Sertão, uma obra de R$500 milhões que cobrirá 28 cidades alagoanas e vai atender um milhão da habitantes. Essa construção se arrasta desde 1992, com previsão para acabar até 2017. O Canal está incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No mesmo palanque, armado no centro de Delmiro Gouveia, ao lado da prefeitura, e diante de uma platéia formada por trabalhadores rurais sem terra, índios, quilombolas, agricultores, políticos e secretários de estado, o presidente poupou o PSDB das críticas. Ele chamou o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), de "amigo" e afirmou ter com ele "boa amizade".

Também elogiou o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) -- que foi presidente nacional do partido duas vezes e um dos tucanos mais críticos do PT. Os dois chegaram a se presentear com flores.

- O velho senador Teotônio Vilela (pai do governador, morto em 1983) dizia que, se os amigos não oferecessem flores, os inimigos não enviariam nunca. Estou aqui para lhe trazer flores, presidente. Obrigado por ajudar Alagoas - disse o governador.

"Para não dizer que eu não dei as flores"

Depois do discurso, o presidente recolheu flores de jarros, para enfeite do palco, e entregou ao governador.

- Tome, para a imprensa dizer que eu não dei as flores - afirmou Lula.

Já o Democratas não teve o mesmo tratamento por parte do presidente:

- É importante lembrar que o meu partido só tem 14 senadores, e o Senado tem 81. Para aprovar qualquer coisa, eu preciso ter, no mínimo, 41 senadores. E estão lá os nossos amigos do PSDB, que em um primeiro momento trabalharam de forma, eu diria, civilizada. Estão lá os nossos amigos do DEM, que tiveram tanta vergonha, que até mudaram o nome do partido, de PFL para DEM. Estão lá destilando ódio, coisa que eu, mesmo quando era dirigente sindical, não conseguia destilar contra os meus adversários, porque eu aprendi que em política a gente constrói consensos para que a gente possa beneficiar a sociedade.

Sob aplausos e aos gritos da multidão de "Dilma Rousseff presidenta", Lula voltou a atacar:

- Eu digo sempre que Deus escreve certo por linhas tortas. A pesquisa de ontem (anteontem) deve tê-los deixado incomodados.