Título: Estudantes picham a Alerj
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 29/03/2008, O País, p. 14

Ato e passeata nos 40 anos da morte de Edson Luis

Nos 40 anos da morte do estudante Edson Luis, os anos de chumbo do regime militar deram o tom do evento. Na inauguração de um monumento no Centro do Rio, o secretário especial de Direitos Humanos da Presidência, Paulo Vannuchi, levantou a hipótese de punição dos responsáveis pelas torturas e mortes nos porões da repressão, mesmo na vigência da Lei de Anistia. Pouco depois, em passeata, os estudantes invadiram e tumultuaram a estação do Metrô no Largo da Carioca, lembrando a conturbada época de protestos quando Edson foi baleado no Calabouço.

Vannuchi citou, em discurso na Casa do Estudante, o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva como exemplo de crime cujos responsáveis ainda podem ser punições. Para ele, a Lei da Anistia tem ¿elementos doutrinários polêmicos¿ quando aplicada nos 140 casos de pessoas desaparecidas:

¿ Juristas de primeira linha, como Fábio Comparato, Dalmo Dalari e Hélio Bicudo, defendem que ocultação de cadáver é crime continuado. Se alguém ocultou um desses 140 cadáveres, cometeu crime no dia seguinte à Anistia e continua cometendo até hoje.

O secretário também questionou se os ¿crimes conexos¿, definidos pela Lei da Anistia, incluiriam tortura e ocultação de cadáver. Para ele, o país só chegará a um consenso sobre o alcance da lei e a possibilidade de punição de torturadores e assassinos no dia em que Supremo Tribunal Federal (STF) se posicionar.

O ato na Casa do Estudante, seguido da inauguração de um monumento na Rua Santa Luzia, reuniu atuais e ex-dirigentes estudantis, como Vladimir Palmeira, Jean Marc Von Der Weid, Elinor Brito, Lindberg Faria e Lúcia Kluck Stumpf (presidente da UNE), além da mãe de Edson Luis, Maria de Belém Souto Rocha.

Vannuchi disse que pretende conversar com a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), sobre a possibilidade de concessão de auxílio especial do governo paraense a mãe de Edson Luis, já que o governo federal já pagou uma indenização de R$130 mil. Após o ato, mobilizou 200 estudantes, que invadiram o Metrô e pularam os torniquetes. Alguns caíram e sofreram arranhões no confronto com seguranças. Após a passeata, estudantes caminharam até a Assembléia Legislativa, onde picharam o chão e as paredes do prédio.

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