Título: Refeição de graça, mais aprendizagem
Autor: Almeida, Cássia; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 29/03/2008, Economia, p. 44

Oferta na escola pública subiu de 89%, em 2004, para 92,4%, em 2006

FORTALEZA e RIO. A mudança de cardápio em Fortaleza, a terceira maior rede de ensino do Brasil com cerca de 250 mil alunos matriculados, está servindo de estímulo a Bruno de Sousa, de 9 anos, aluno do 5º ano da Escola Municipal Herundina Lima Cavalcante. Para ele, a refeição da escola é mais saborosa do que a da mãe. O exemplo de Fortaleza não é isolado, já que a oferta de merenda escolar nas escolas públicas subiu de 89%, em 2004, para 92,4%, em 2006.

A maioria dos pais dos amigos de Bruno vive do subemprego, ganhando dinheiro com bicos. Alguns complementam a renda com o Bolsa Família. Há relatos de professores sobre alunos que passaram mal na aula porque estavam com fome. O cardápio, que antes tinha lanches industrializados, passou a incluir canja, arroz com feijão, macarrão e carne; cuscuz com frango desfiado e uma bebida láctea com biscoito.

- Para muitos, essa é a única refeição do dia - afirma o chefe do Departamento de Alimentação Escolar do município, José Carlos Vasconcelos.

O levantamento da Pnad confirmou que a refeição gratuita funciona como um estímulo à presença das crianças e adolescentes nas creches e escolas, além de ajudar no processo de aprendizagem, sobretudo entre os alunos de baixa renda, comentou Maria Lúcia Vieira, responsável pelos dados de educação da pesquisa.

Faltas no Ceará eram motivadas por fome

Na rede pública, a refeição gratuita era oferecida a 97,4% dos alunos das creches, a 97,2% dos da pré-escolar e a 96,5% do corpo discente do ensino fundamental. No ensino médio, o percentual era um pouco menor, 58,9%. Já na rede particular, este serviço atendia somente 16,9% do total das crianças em creches; a 10,3% na pré-escola; 6,9% no ensino fundamental; e 3,2% no ensino médio.

- Meu prato preferido é cuscuz com frango - comenta José Alex Pereira Brito, de 10 anos, aluno do 4º ano da escola Herundina Lima Cavalcante, em Fortaleza.

Em 2007, um aluno com histórico de faltas freqüentes e queixas de dores de cabeça chamou a atenção da professora Maria do Rosário. Ela descobriu que a causa de tudo era "a fome". O menino faltava porque não comia antes de sair de casa e, na escola, acabava se sentindo mal.

A partir deste ano, a prefeitura de Fortaleza está introduzindo a chamada "entrada". Será uma merenda à base de bebida láctea e biscoito, servida duas vezes por semana, antes do início das aulas.

Pais pedem à escola para levar comida para casa

Segundo a professora Maria do Rosário, uma boa refeição tem feito a diferença no nível de concentração das crianças na escola:

- As idéias antes não fluiam. No aprendizado, estão mais atentas, e também reduziu a evasão escolar.

Segundo o diretor da escola Herundina Lima Cavalcante, Francisco Ramalho, é comum pais de alunos pedirem para levar comida para casa, muitas vezes para alimentar outras crianças da família.