Título: Loyola: elogio de Lula ao Proer é evolução natural
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 29/03/2008, Economia, p. 49

Para economista, presidente do Banco Central na época do programa, plano foi impopular, mas "eficiente e justificado"

BRASÍLIA. O ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Loyola, ironizou a defesa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o Proer, do qual foi mentor. A iniciativa - que a partir de 1995 destinou cerca de R$40 bilhões aos bancos - foi citada por Lula na última quinta-feira como exemplo a ser seguido pelos americanos, que atravessam uma severa crise financeira. Loyola disse que esse reconhecimento tardio significa um amadurecimento do presidente.

Dos R$40 bi emprestados, só R$17 bi foram recuperados

- Vejo o comentário do presidente como uma evolução natural. Fico satisfeito como uma pessoa que participou do programa, pois eu era presidente do BC à época. Só é uma pena que a gente ainda tenha de carregar nas costas alguns processos iniciados por pessoas do PT, não é (risos)? - afirmou.

Dos R$40 bilhões emprestados, foram recuperados cerca de R$17 bilhões até agora. Foram atendidos pelo programa e liquidados os bancos Nacional, Econômico, Bamerindus, Mercantil, Banorte e Crefisul.

Loyola não entrou em detalhes sobre os processos judiciais que teriam sido iniciados pelo PT, mas assegurou que não vai usar as declarações favoráveis do presidente em sua defesa.

- Confio na Justiça. Até agora, dos julgamentos que aconteceram, a maioria foi favorável a mim - afirmou.

Loyola defendeu a postura do então presidente Fernando Henrique Cardoso por dar aval ao Proer. O programa sempre foi considerado uma medida impopular por destinar recursos a bancos, sobretudo os que estavam à beira da insolvência.

Proer mudou forma de BC fiscalizar bancos

- Acho que o estadista é justamente quem olha para o futuro e não fica preso simplesmente à idéia de ter que agradar as pessoas no presente. Foi isso que o presidente Fernando Henrique foi ao apoiar um programa que sofreu um tiroteio de todos os lados e com o tempo se mostrou bastante efetivo, eficaz, eficiente e justificado - disse.

Segundo ele, o Proer fez parte de um amplo programa de reestruturação do setor financeiro. O pacote, destacou Loyola, incluiu uma profunda reestruturação regulatória, a criação de mecanismos como seguro de depósitos - que não existiam no Brasil -, mudanças em várias legislações e a privatização de bancos estaduais, que historicamente eram focos de inúmeros problemas contábeis. Ele acredita que todas as alterações mudaram a forma com a qual o BC fiscaliza as instituições financeiras no Brasil.

Loyola afirmou que o Proer não foi uma exclusividade do Brasil, pois, para ele, todo banco central tem a obrigação de socorrer seu sistema financeiro quando há um risco sistêmico no mercado. Ele citou exemplos recentes nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha. Segundo Loyola, este deve ter sido o recado que Lula quis dar ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao afirmar que o Proer poderia ser aprendido e repetido no sistema financeiro americano.