Título: Tibete: brasileiro em missão que tenta se reunir com monges
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 29/03/2008, O Mundo, p. 54
Diplomatas de 15 países e regiões fazem visita guiada à região de Lhasa em que Pequim busca provar subversão
PEQUIM e NOVA DÉLHI. Os 15 diplomatas que integram a primeira missão internacional que está desde ontem em Lhasa, em viagem de observação coordenada pelo governo da China, pediram a Pequim para conversar com monges e entrar nos mosteiros fechados ao público desde o início dos protestos no Tibete, em 10 de março. A informação foi dada por telefone pelo conselheiro da Embaixada do Brasil em Pequim, Oswaldo Biato Junior, o único diplomata da América Latina a integrar a missão.
Segundo ele, no primeiro dia da visita dos diplomatas - que retornam hoje a Pequim - os locais visitados foram os mesmos percorridos pelos jornalistas estrangeiros por determinação da China, ou seja, a região oeste de Lhasa, a mais afetada pelos protestos do dia 14.
- Visitamos lojas destruídas, hospitais e escolas e falamos com gente que teve perdas na manifestação, que de fato não pareceu pacífica - disse Biato. - O governo chinês então reclamou da cobertura parcial da mídia estrangeira sobre o incidente, dizendo que a violência tibetana não era mostrada. Nós ponderamos que, para que a diplomacia pudesse ter uma visão efetivamente equilibrada do que aconteceu no Tibete, precisávamos ouvir também os monges e visitar os mosteiros fechados.
A missão diplomática inclui representantes de EUA, Canadá, Brasil, Grã-Bretanha, Alemanha, França, Espanha, Itália, Eslovênia (presidente da Comunidade Européia), União Européia, Japão, Rússia, Austrália, Cingapura e Tanzânia. À noite, os diplomatas tiveram um jantar com Qiangba Puncog, o governador do Tibete, que culpou o Dalai Lama pelos protestos que desde o início do mês se espalham pela região e províncias vizinhas. Dependendo da fonte, o número de mortos varia de 24 a mais de 100, e há mais de 700 presos. O Dalai Lama, por sua vez, acusou a mídia chinesa de distorcer a verdade e disse que há risco de tensão étnica entre tibetanos e chineses.
No Nepal, houve protestos e a polícia prendeu manifestantes. Secundaristas escalaram o prédio da ONU em Katmandu e estenderam uma faixa pedindo liberdade para o Tibete.