Título: Febre amarela ainda ameaça, diz pesquisadora
Autor: Brasiliense, Ronaldo
Fonte: O Globo, 30/03/2008, O País, p. 13

Diretora do Instituto Evandro Chagas afirma que país precisa realizar campanha nacional de vacinação contra a doença

BELÉM. A pesquisadora Elisabete Santos, diretora do Instituto Evandro Chagas, centro de excelência em doenças tropicais com sede em Belém, defende a realização de uma campanha nacional de vacinação contra a febre amarela. Segundo ela, essa é a única fórmula capaz de evitar que mais pessoas sejam vítimas da doença, transmitida pelo mosquito Haemagogus.

O Instituto Evandro Chagas foi responsável pelos exames das pessoas infectadas no Brasil este ano, principalmente na Região Centro-Oeste, confirmando 20 mortes pela doença.

"A doença está tendo um comportamento atípico"

A febre amarela silvestre é transmitida ao homem pela picada de fêmeas de mosquitos do gênero Haemagogus, nas Américas, e Aedes, na África. Elisabete não descarta a possibilidade de a febre amarela urbana voltar, mais de 60 anos após ser erradicada do país.

- A doença está tendo um comportamento atípico este ano. A febre amarela está de cara nova - diz Elisabete.

A pesquisadora frisa que todos os casos confirmados este ano aconteceram em pessoas que não haviam tomado a vacina. Elisabete diz ser inconcebível que no Brasil, um país que exporta vacinas, pessoas viajem sem se imunizar para regiões onde a doença é endêmica.

"Não há caso de óbito entre pessoas que se vacinaram"

Para a diretora do Instituto Evandro Chagas, o Brasil deveria adotar campanhas nacionais de vacinação contra a febre amarela, a exemplo do que ocorre com a vacina Sabin, contra a paralisia infantil.

- Com certeza evitaríamos as mortes. Não há caso de óbito entre pessoas que se vacinaram. A vacina dá uma cobertura de dez anos. As pessoas têm que ter por hábito se vacinar. Veja o caso do médico Drauzio Varella, uma pessoa bem informada, que veio para a Amazônia sem se vacinar e contraiu febre amarela. É preciso que haja as campanhas nacionais de vacinação e que se mantenha a vacina nos postos de saúde para qualquer eventualidade.

Elisabete diz que o aumento de casos na Região Centro-Oeste já era esperado, porque esse fenômeno costuma ocorrer no início do ano. Já na Amazônia, afirma, o problema costuma ser verificado no fim de março e início de abril. Para a pesquisadora, há risco de casos de febre amarela urbana, erradicada do Brasil desde a década de 40 do século passado, voltarem a ocorrer:

- Esse risco, a princípio, aumentou. Até porque há a presença do mosquito Aedes em vários estados da Federação - afirma.