Título: Destruição sem controle
Autor: Cavalcanti, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 03/05/2009, Brasil, p. 10

Maracajaú (RN) ¿ Desmatamento, sedimentação, produção cada vez maior de lixo, ocupação desordenada e exploração pesqueira são as maiores ameaças ao ambiente marinho no Nordeste. Estudo preparado por um grupo de cientistas do Global Coral Reef Monitoring Network (GCRMN) ¿ entidade composta por governos e ONGs ¿, responsável pelo monitoramento dos recifes no mundo, mostra que os impactos causados pelo homem chegam ao extremo.

Numa escala de zero a 5, onde o maior número indica o risco mais acentuado, os pesquisadores listaram causas que vão desde o branqueamento provocado pelo aumento da temperatura do mar até o turismo desordenado. As ameaças como o desmatamento e a sedimentação, por exemplo, receberam nota 5, tanto no litoral baiano quanto em Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.

No Brasil, o levantamento sobre os riscos para os recifes foi realizado pelos pesquisadores Beatrice Padovani, da Universidade Federal de Pernambuco, e Zelinda Leão e Ruy Kikuchi, ambos da Universidade Federal da Bahia. Na América Latina, os trabalhos tiveram a coordenação de cientistas da Costa Rica, Panamá, Venezuela e Colômbia ¿ país visitado pela equipe do Correio, em novembro de 2008.

Umas das ameaças é o turismo praticado por pessoas que não receberam a devida informação sobre os recifes. Os pesquisadores deram notas de risco 4, na Bahia, e 3, em Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. ¿Os problemas vão desde o óleo das embarcações até o pisoteio dos turistas. É quase uma covardia¿, afirma Liana Mendes, professora de zoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

¿A maior dificuldade é que a maioria dos turistas tem as primeiras informações ao chegar aos recifes. Uma informação eficiente poderia contribuir para a redução de condutas inadequadas¿, diz Clébia Silva, mestre em desenvolvimento e meio ambiente pela UFRN. Em fevereiro, ela apresentou uma tese sobre a imagem que o turismo e a comunidade têm dos recifes de Maracajaú, praia a menos de 100km de Natal.

Investimentos O mesmo problema de falta de informações a turistas foi encontrado por outros pesquisadores nas áreas de proteção ambiental e parques protegidos em Tamandaré e Fernando de Noronha, em Pernambuco, Maragogi e Porto de Pedras, em Alagoas, e Arraial d¿Ajuda, na Bahia. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem um programa que financia o monitoramento de recifes e faz campanhas de alerta. ¿Precisamos contar mais com os parceiros locais. O ministério não tem condições de manter em cada localidade um programa de sensibilização sem a ajuda de órgãos públicos e organizações não governamentais e operadoras de turismo, por exemplo¿, afirma Ana Paula Prates, gerente de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros do MMA.

A professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco Fernanda Amaral acredita que, mesmo com os danos causados, há esperança. ¿Apesar do impacto que o turismo pode ter, é possível, com planejamento adequado, promover experiências proveitosas para a população local, o turista e a indústria turística.¿ (LC)