Título: Contra a crise, palanques
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 01/04/2008, O País, p. 3

Dilma é festejada por Lula e Cabral no Rio e até chamada de presidente pelo governador

Os compromissos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio se transformaram em ritos de desagravo à chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, cuja secretária-executiva, Erenice Guerra, é acusada de ter feito um dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique e dona Ruth Cardoso. Quem deu o tom dos eventos foi o governador Sérgio Cabral (PMDB), que, ao discursar durante cerimônia de início das obras do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), ontem de manhã, agiu como porta-voz do governo Lula e fez uma homenagem à ministra, sentada todo o tempo ao lado do presidente, nos dois encontros do dia: tanto no palco montado na sede do complexo, em Itaboraí, quanto no que reuniu políticos em Duque de Caxias, para a cerimônia de início das obras do PAC na Baixada Fluminense.

- Quero agradecer, presidente, e fazer justiça a quem merece. Nós temos uma pessoa que acredita no Brasil. Com sua visão, sua obstinação, sua dedicação ao povo brasileiro e seu profundo conhecimento, algo absolutamente raro, que é ter habilidade política e conhecimento prático. Quero homenagear a companheira Dilma Rousseff, a comandante desse processo (o PAC) em todo o Brasil - disse o governador.

Empolgado, Cabral chegou a chamar a ministra de presidente, para depois se corrigir:

- Esse Comperj aqui tem a rubrica da presidente, quer dizer, da ministra Dilma. Já tô confundido as bolas. O PAC, de um modo geral, tem as mãos da ministra Dilma.

A ministra discursou nos palanques, mas não tocou no escândalo do dossiê.

Dilma e Pezão, o "casal do PAC"

Dilma, com visual despojado, sem os tradicionais terninhos e com um batom vermelho nos lábios, acenava para o público, nos dois eventos, sempre sentada na primeira fila. Em Duque de Caxias foi a vez de Lula incensar Dilma. Chamou a ministra e o vice-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que o presidente considera como "o casal do PAC", para o meio do palco.

- Peço permissão ao Sérgio (Cabral) para falar bem de um companheiro aqui. Vem cá, Pezão. E Dilma, vem cá. Olhe, normalmente, quando o governo anuncia verba para uma cidade qualquer, entre anunciar e a verba sair leva anos e, às vezes, não sai, porque tem entraves legais. É um verdadeiro inferno. Esse companheiro é o gerente do PAC no estado. Por isso outro dia eu disse que ele era o pai do PAC no Rio e a Dilma era a gerente, a mãe do PAC.

Lula afirmou que Dilma acompanha semanalmente as obras do PAC pelo país, o que, segundo ele, faz da ministra uma gerente eficaz.

- A Dilma me presta conta todo mês. É o estado (o PAC) entrando onde apenas poucos bandidos entravam, às vezes para chantagear a sociedade e cobrar até pedágio. Quero, de público, dizer que esses dois companheiros aqui são os responsáveis para que as coisas funcionem bem - disse o presidente.

Os efeitos das acusações de envolvimento da ministra na elaboração de um dossiê sobre o uso da conta B no governo Fernando Henrique Cardoso passaram longe do clima festivo do dia. Cabral, sorridente, depois do discurso de Lula em Caxias, pegou a câmara do fotógrafo da Presidência, Roberto Stuckert Filho, para registrar o abraço de Dilma e Pezão. Dilma fotografou Lula.

Em seu discurso, a ministra disse que a cerimônia de ontem "abre caminho" para outros projetos do PAC no país:

- Quero dizer aos senhores: o PAC é uma forma de criar oportunidades de estudo, de trabalho e, sobretudo, de riqueza para todos nós.

www.oglobo.com.br/pais