Título: Casa Civil pediu a TCU sigilo sobre gastos de Lula
Autor: Casado, José
Fonte: O Globo, 01/04/2008, O País, p. 5

Subordinados de Dilma foram ao tribunal para tentar preservar dados sobre despesas do presidente e sua família

Por duas vezes, nos últimos dois anos, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mandou subordinados ao Tribunal de Contas da União (TCU) com pedidos de manutenção de sigilo absoluto sobre as despesas do presidente Lula e familiares pagas com cartões de crédito governamentais.

O empenho demonstrado por Dilma Rousseff na preservação do segredo sobre as despesas da família presidencial contrasta com a divulgação de um dossiê sobre as contas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e da ex-primeira dama Ruth Cardoso. As informações estavam sob controle direto e formal da chefe da Casa Civil.

O sistema de pagamento de despesas governamentais com cartões de crédito foi adotado em 2002, no último trimestre da administração Fernando Henrique. Até o início da gestão Lula, as prestações de contas ao TCU eram feitas de forma aberta. A partir de 2003, a Presidência da República decidiu classificar os dados como segredo de Estado. Desde então, a cada R$5 em despesas da família presidencial pagas pelos cofres públicos, 98% (R$4,90) são classificadas como "protegidas por sigilo", sob o argumento de "garantia da segurança da sociedade e do Estado".

Dilma Rousseff assumiu o comando da Casa Civil no dia 21 de junho de 2005, em uma emergência política para blindagem do presidente da República, que demitira o então ministro José Dirceu - mais tarde cassado pela Câmara e denunciado à Justiça como "chefe da quadrilha" de mensaleiros. Àquela altura, uma Comissão Parlamentar de Inquérito apurava o caso do mensalão e acumulava denúncias sobre o suposto uso irregular de cartões de crédito na Presidência da República.

Uma das primeiras decisões da ministra foi o exame das contas presidenciais. Ela entregou à sua secretária-executiva, Erenice Alves Guerra, a tarefa de montar uma equipe para a organização dos arquivos das despesas da família presidencial. Quando o Senado pediu ao TCU uma auditoria, a Casa Civil já trabalhava os dados do arquivo dos gastos presidenciais.