Título: Rio pede socorro
Autor: Magalhães, Luiz Ernesto; Borges, Waleska
Fonte: O Globo, 01/04/2008, Rio, p. 11

Com 67 mortes por dengue confirmadas, estado vai contratar pediatras de outros estados

Aepidemia de dengue - que já causou 67 mortes no estado (13 novos óbitos foram confirmados ontem pela prefeitura desde o último balanço feito na sexta-feira) - expôs um grave problema no estado: a falta de médicos. Ontem, o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, anunciou que vai contratar, até o fim de maio, 154 pediatras em outros estados. O anúncio foi feito depois de mais um fim de semana de caos em hospitais públicos, que, além da grande quantidade de doentes, lidam com a falta de médicos e com o fato de os postos do município não abrirem aos domingos. Ao anunciar as medidas, Côrtes voltou a falar sobre a gravidade da situação:

- A estratégia que adotamos pode ser definida como medicina de catástrofe.

Os pediatras terão passagens e hospedagem pagas pelo Estado e trabalharão em regime de plantão de 24 horas, recebendo diárias de R$500. Apenas com os salários, a previsão é que sejam gastos R$616 mil mensais. Côrtes disse que entrou em contato com secretários de outros estados para pedir que emprestem especialistas. O primeiro a atender o apelo foi o Rio Grande do Sul, onde não foram registrados casos da doença este ano. Entre 15 e 20 pediatras gaúchos chegam no próximo domingo.

Ontem, foi mais um dia de filas e hospitais lotados. Nos hospitais Salgado Filho e Lourenço Jorge, o tempo de espera chegava a oito horas.

Com a expectativa de chegada dos novos médicos, mais quatro tendas serão abertas, com 212 pontos de reidratação. O plano é inaugurar três delas ainda esta semana. A maior delas, com 116 pontos de reidratação, funcionará numa praça vizinha ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha. As outras ficarão no Iaserj da Gávea, em apoio ao Hospital Miguel Couto; no PAM de Del Castilho; e a quarta no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Com isso, o número de tendas disponíveis chegará a onze, incluindo as unidades montadas pelas Forças Armadas e inauguradas ontem. Hoje de manhã, o atendimento infantil será reforçado com a abertura de 92 novos leitos no Hospital Anchieta (Caju).

O secretário explicou que, conforme a demanda, as tendas poderão ser transferidas para outras áreas.

Capital registra 44 das 67 mortes

O secretário disse ainda que todos os postos de saúde da prefeitura do Rio deveriam abrir nos fins de semana para reduzir a sobrecarga nos hospitais. Segundo ele, isso já será feito em Campos, onde vão funcionar como pontos de hidratação. O presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, criticou a iniciativa de contratar pediatras de fora do Rio. Segundo ele, não faltam médicos, mas melhores condições de trabalho e salários:

- Se tem dinheiro para trazer profissionais de fora, por que não oferece melhores salários para os pediatras daqui?

Sérgio Côrtes rebateu as críticas:

- Não há especialistas no mercado - disse.

A capital é que tem a situação mais crítica. Das 67 mortes, 44 ocorreram no Rio. Entre os 13 óbitos confirmados ontem pela prefeitura, cinco eram de crianças, incluindo dois bebês de 9 meses (Colégio) e 4 meses (Maré). A doença também matou crianças em Realengo, Anchieta e Inhaúma. Em nota, a Secretaria municipal de Saúde diz que planeja abrir os postos nos fins de semana. Mas não deu prazo.

Côrtes negou que médicos faltaram aos plantões no fim de semana. Ele atribuiu as reclamações de falta de especialistas, como na UPA de Campo Grande, ao elevado número de pacientes. O secretário acrescentou que, em caso de faltas sem justificativa, os profissionais serão punidos. Ao lançar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ontem em Caxias, o presidente Lula criticou a falta de prevenção à doença:

- Nós temos que cuidar da dengue muito antes de as pessoas serem picadas pelo mosquito. Aí tem responsabilidade o presidente, o governador, o prefeito e cada habitante deste país. Se a gente não limpar a água que está empoçada, todos seremos vítimas da irresponsabilidade.

Os bombeiros informaram ter identificado em sobrevôos de helicóptero 830 casas com suspeita de focos apenas em Jacarepaguá, Recreio e Barra. Já o Coordenador da Defesa Civil do Município, coronel João Carlos Mariano, pediu à Procuradoria Geral do Município que exija o ressarcimento das despesas da prefeitura na limpeza de terrenos e casas vazias que são focos de dengue. Segundo ele, os gastos já chegam a R$5 milhões.

RIO TEM 72,9% DAS MORTES DE DENGUE NO PAÍS na página 12

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