Título: Oposição estaria à frente no Zimbábue
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Fonte: O Globo, 01/04/2008, O Mundo, p. 26

Observadores crêem em segundo turno com Mugabe. Polícia entra em alerta

HARARE e WASHINGTON. A Rede de Apoio à Eleição do Zimbábue, um grupo independente de monitores eleitorais, previu ontem que o líder da oposição Morgan Tsvangirai terá a maioria dos votos no pleito presidencial de sábado passado, mas um segundo turno com o presidente Robert Mugabe não está descartado. Segundo projeções do grupo, baseadas em resultados parciais, Tsvangirai obteve 49,4% dos votos.

A polícia de choque foi posta em estado de alerta ontem em meio à demora no anúncio do resultado das eleições para o Parlamento e a Presidência do país, o que reforçou suspeitas de fraude. O Movimento para a Mudança Democrática (MDC), de Tsvangirai, anunciou seus próprios números, baseados em 128 dos 210 distritos parlamentares: o líder oposicionista estaria com 60%, contra 30% de Mugabe. As autoridades, porém, já haviam advertido a oposição de que reivindicar vitória antes do anúncio oficial seria encarado como tentativa de golpe de Estado.

EUA expressam preocupação sobre lisura eleitoral

O clima de tensão no país era evidente. Um ministro de Mugabe foi derrotado num distrito tido como baluarte do governo. Um morador de um dos subúrbios da capital, Harare, onde a oposição tem ampla maioria, disse que um comboio de 20 blindados da polícia de choque percorreu a região.

¿ Há muitas patrulhas por aqui ¿ disse o morador, acrescentando que as pessoas foram aconselhadas a permanecerem fora das ruas.

A demora da Comissão Eleitoral em divulgar boletins oficiais da apuração fez crescer a desconfiança de que Mugabe esteja tentando se manter no poder de forma fraudulenta. Mais de 48 horas após o fim da votação, apenas 66 dos 210 distritos eleitorais tiveram seus resultados anunciados em relação ao Parlamento, mostrando o Zanu-PF, o partido de Mugabe, com uma cadeira a mais do que o MDC. Nenhum resultado sobre o pleito presidencial, no qual Mugabe enfrenta seu maior desafio político em 28 anos no poder, havia sido anunciado ontem.

¿ Agora está claro que há algo estranho. A coisa toda é suspeita e totalmente inaceitável ¿ disse o porta-voz do MDC, Nelson Chamisa.

O governo dos EUA também expressou ontem preocupação com a demora no anúncio dos resultados das eleições zimbabuanas e exortou a Comissão Eleitoral a garantir que os votos sejam contados com honestidade.

¿ Estamos exortando a Comissão Eleitoral que conte honestamente cada voto e divulgue o mais brevemente possível o resultado, que reflita o desejo e preferência do povo do Zimbábue ¿ disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Fratto.

Por sua vez, o porta-voz do Departamento de Estado, Tom Casey, enumerou uma longa lista de irregularidades no pleito de sábado, inclusive a impressão excessiva de cédulas eleitorais, o que, segundo ele, pode tornar a contagem de votos um problema. Já um grupo de chanceleres da União Européia pediu ao governo zimbabuano que anuncie logo os resultados, e alertou Harare de que o futuro do país depende da credibilidade e da transparência do processo eleitoral.

Mugabe, de 84 anos, enfrenta nesta eleição uma pressão sem precedentes. Além de Tsvangirai, o presidente zimbabuano também vem sendo atacado por um ex-aliado, Simba Makoni. Os dois oposicionistas culpam Mugabe pela falência do país. Os cidadãos do Zimbábue vivem a maior inflação do mundo, de 100.000%, desabastecimento crônico de alimentos e combustível, e uma epidemia de Aids, o que contribuiu para uma drástica queda na expectativa de vida no país. Analistas acreditam que Mugabe, porém, tentará se manter no poder com o apoio das Forças Armadas.