Título: Disparada nas contaminações
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 03/05/2009, Mundo, p. 16

Em apenas 24 horas, OMS registra 290 casos e admite elevar o nível de alerta para 6, fase que indica pandemia

Desde a noite de sexta-feira, o vírus H1N1 ¿ causador da gripe suína ¿ mantém um padrão de comportamento preocupante: além de ter se espalhado pelo globo terrestre (já são 16 países de quatro continentes), suas taxas de infecção subiram mais de 65%, passando de 368 para 658 casos (veja o mapa). A Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda considera a pandemia iminente e pela primeira vez levantou a possibilidade de que ela já estaria ocorrendo. ¿Estamos vendo a doença se disseminar. Nós temos que contar com o risco de que a fase 6 seja alcançada. A esperança é de que ainda não tenha sido¿, afirmou Michael Ryan, diretor de Alerta e Resposta Global da OMS, referindo-se à escala de alerta pandêmico da entidade. As ocorrências suspeitas de contaminação também dobraram no Brasil (leia mais na página 17).

O que teoricamente estaria adiando a decretação do nível 6 é o fato de as notificações sobre transmissões sustentadas do vírus se restringirem à América do Norte. ¿É tempo para o mundo se preparar e estar pronto¿, acrescentou Ryan. Por outro lado, a própria OMS admite que ainda é prematuro especular sobre o grau de virulência do H1N1 e se a gripe suína provocará graves sintomas. Segundo o diretor, os próximos dias na Europa serão determinantes para se ter noção de até que ponto o micro-organismo se propagou. Nas últimas 48 horas, o vírus atingiu a Itália e a Irlanda (caso ainda não reconhecido oficialmente pela OMS) e se expandiu especialmente pelo Reino Unido e pela Alemanha. No fim da tarde de ontem, a Espanha reconhecia um total de 20 infecções, ainda que a OMS só contabilizasse 15 em seu sistema.

Os Estados Unidos também reportaram aumento no número de casos, de 141 a 160, em 21 dos 50 estados. O presidente Barack Obama promete tomar as precauções possíveis e ignorar meias-medidas diante do avanço do vírus desconhecido. ¿Não sabemos por que o H1N1 não foi tão letal em nosso país e essa é a razão pela qual tomamos todas as precauções necessárias, ante a eventualidade de que o vírus assuma forma mais grave¿, declarou. ¿A boa notícia é que se pode vencer a atual cepa (variante) graças a um tratamento antiviral que temos à nossa disposição. Só tenho grandes esperança e as orações mais ardorosas para ver que todas essas precauções e todos esses preparativos serão desnecessários¿, completou.

Pneumonia grave Em entrevista ao Correio, o canadense Earl Brown, diretor do Centro de Pesquisas de Patógenos Emergentes da Universidade de Ottawa, considerou mais inquietante um fenômeno associado às infecções. ¿Há relatos de 2.387 graves casos de pneumonia nas últimas duas semanas no México. São inflamações pulmonares bem raras, com alta incidência de morte¿, explicou o infectologista. ¿A doença no México está quase restrita a crianças e adultos saudáveis, o que é o oposto do padrão de uma pneumonia ocasionada pela gripe sazonal.¿

Segundo Brown, epidemias de pneumonia atípica foram vistas durante a gripe espanhola de 1918 (leia mais na página 19) e no surto de Síndrome Aguda Respiratória Severa (Sars), que se espalhou da Índia para 14 países entre 2002 e 2003. A principal sintomatologia dessa intercorrência inclui diarreia, delírio, hemorragia interna, dificuldades respiratórias e choque. O canadense explicou que sequências genéticas foram isoladas de portadores do H1N1 nos EUA e no México. Nessas análises, os cientistas não teriam detectado mutações expressivas. ¿É provável que outro vírus circulando na população mexicana a torne suscetível à gripe suína grave.¿

O norte-americano Rich Whitley, professor de medicina da Universidade de Alabama em Birmingham, acredita que uma pandemia já está em andamento. ¿Suspeito que a OMS vai elevar o nível de alerta em breve¿, disse ao Correio. O especialista em virologia clínica tem duas explicações para o aumento no número de casos. ¿Uma das hipóteses é de que o sistema de notificação tem se aprimorado. Outra é de que o vírus demonstre eficiência ao infectar as pessoas¿, comentou.

As vacinas são feitas em laboratórios dos EUA, do Canadá e da Europa. Os cientistas usam um embrião de galinha infectado pelo H1N1 para obter a matéria-prima. A expectativa é de que o produto fique pronto em seis meses.