Título: Senadora ameaça encerrar a CPI
Autor: Vasconcelos, Adriana ; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 03/04/2008, País, p. 9

Marisa tenta, sem sucesso, acordo para convocações: "Fiz o que pude"

Bernardo Mello Franco e Chico de Gois

BRASÍLIA. Sem poder investigar os gastos sigilosos da Presidência da República e com dificuldade para convocar autoridades, a presidente da CPI do Cartão Corporativo, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), decidiu jogar a toalha e pôr um ponto final à comissão. Ela comunicou a decisão à bancada governista ontem à noite, em reunião reservada com o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), e o principal articulador da base, deputado Paulo Teixeira (PT-SP).

No encontro, a senadora reclamou do rolo compressor do governo, e condicionou a continuidade dos trabalhos à aprovação dos requerimentos que pedem a abertura dos gastos da Presidência e a convocação da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, e de sua chefe de gabinete, Maria de La Soledad Castrillo. As duas são suspeitas de montar o dossiê com gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique.

Com ampla maioria na CPI, os petistas recusaram qualquer tipo de acordo. Marisa anunciou, então, que encerraria a CPI. Os requerimentos serão postos em votação hoje.

- Sem ter quem ouvir e sem documentos para investigar, para que fazer mais reuniões? Eles já disseram que vão votar contra tudo. Então eu saio, suspendo todas as sessões a partir do dia 10, e marco uma data para o Luiz Sérgio entregar seu relatório. Sei que fiz tudo o que pude - disse ela ao GLOBO, à noite.

Teixeira confirmou que os governistas não fariam qualquer concessão:

- Ela disse que encerraria a CPI se os requerimentos fossem derrotados. Nós apenas ouvimos.

A suspeita de que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) vazara o dossiê encurralou a oposição. Ao deixar o plenário do Senado, onde o tucano deu sua versão sobre o episódio, Luiz Sérgio já comemorava vitória:

- Isso constitui crime. Ele ocultou o dossiê por um mês e tem o dever moral e ético de se explicar na CPI. Os argumentos da oposição foram desmontados.

CPI sobrevive até a próxima quinta-feira

Marisa decidiu manter a comissão viva até a próxima quinta-feira apenas para forçar a realização dos depoimentos da ex-ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) e dos ministros Orlando Silva (Esporte) e Altemir Gregolin (Pesca). Foi a fórmula encontrada pela oposição para causar um desgaste final ao governo, que julga ter atingido seu principal objetivo com a blindagem da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A reunião com os dois petistas foi o último ato de um longo dia de articulações. Antes disso, Marisa almoçou com os cardeais da oposição e, à tarde, teve uma reunião sem resultados com os presidentes do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), e do Tribunal de Contas da União, Walton Alencar. Os dois avisaram que não autorizariam a cessão de dados sigilosos do Planalto em poder do tribunal.

À noite, após uma reunião final com assessores, Marisa deixou o Senado sozinha - cena inusitada desde o início da CPI. A senadora reconheceu ter cometido um único erro durante os trabalhos: provar, diante das câmeras, o sorvete de tapioca oferecido em plenário pelo deputado Vic Pires Franco (DEM-PA).