Título: Álvaro Dias não revela quem repassou dossiê
Autor: Vasconcelos, Adriana ; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 03/04/2008, País, p. 9

A MÃE DO PAC NA BERLINDA: "Se quiserem esclarecer os fatos, acabem com essa história de sigilo" diz Agripino Maia

Tucano diz que levantamento circulava pelo Congresso de "forma clandestina" antes da CPI; governo cobra origem

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) admitiu ontem, em plenário, que recebeu o dossiê com dados sigilosos dos gastos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso antes mesmo da instalação da CPI do Cartão Corporativo, como revelou ontem O GLOBO. Mas, da tribuna, alegou a prerrogativa constitucional para manter o sigilo da sua fonte. O episódio provocou grande confusão no Senado. A oposição dizia que não era importante saber quem passou o documento ao tucano, mas quem, no governo, o elaborou com o intuito de chantageá-la. Os governistas, por outro lado, diziam que não era mais necessário convocar a ministra Dilma Rousseff ou sua principal auxiliar, Erenice Guerra, pois o senador Álvaro Dias já sabia a origem do dossiê.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), afirmou que se tivesse tido acesso ao dossiê teria, primeiro, consultado o presidente Fernando Henrique e, depois, divulgado o seu teor. Após ouvir o líder, Dias apelou à Constituição. E usou o mesmo dispositivo para não responder se teria sido ele o responsável por vazar o dossiê para a imprensa.

A tropa de choque governista viu a oportunidade de "sair das cordas" e tentar jogar a oposição no foco das suspeitas sobre a montagem do dossiê. Desde a divulgação da existência do relatório pela revista "Veja", há quase duas semanas, Dilma dá explicações sobre a caso. Ontem, líderes da base aliada decidiram pressionar a oposição a dar explicações sobre os motivos do vazamento e, principalmente, sobre quem seria a fonte do parlamentar tucano.

Dias: parlamentares e assessores também sabiam

Ao GLOBO, Álvaro Dias disse que o dossiê circulava de forma clandestina no Congresso, antes mesmo da CPI:

- Não só eu tive acesso ao dossiê como muitos parlamentares e assessores também tinham conhecimento. Isso era motivo de comentário tanto na situação como na oposição. Esse dossiê circulava pelos corredores do Congresso de maneira clandestina, de forma sub-reptícia, não muito visual. Foi assim que eu tive acesso.

Aos colegas tucanos, Dias informou que recebeu o dossiê de um assessor do Senado. Depois, teve cuidado em não confirmar a notícia. Argumentou que iria assumir a responsabilidade por ter recebido o relatório, e que não responsabilizaria ninguém pela distribuição do documento.

- A origem do dossiê foi o Planalto. O objetivo foi confundir a opinião pública ao divulgar gastos feitos pelo governo Fernando Henrique. Não dá para a corda estourar sempre do lado mais fraco. O Planalto está em busca de um bode expiatório como fizeram com o Delúbio Soares para assumir a culpa - atacou Dias.

Jucá diz que há um espião infiltrado no governo

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), levantou suspeitas de que a oposição teria algum funcionário infiltrado no Planalto:

- O governo tem um banco de dados sobre as contas da gestão atual e da passada. Houve uma espionagem para retirar informação do banco de dados. O governo foi subtraído desses dados num ato criminoso. O vazamento ocorreu para parlamentares da oposição. Esse é o fato. Quem montou o dossiê é quem fez a espionagem. Temos um espião infiltrado no governo. Se o senador Álvaro Dias sabe quem passou o dossiê, deve apontar o autor.

O discurso mais contundente foi o da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC):

- Não adianta o PSDB apresentar requerimento para acompanhar a comissão de sindicância do Planalto. Está nas mãos do senador Álvaro Dias dizer quem lhe deu o documento. Ele tem obrigação de identificar quem entregou.

- Essa discussão é uma cortina de fumaça. Se quiserem mesmo esclarecer os fatos, que façam como o presidente Fernando Henrique e abram as informações sobre os seus gastos, acabem com essa história de sigilo - rebateu o líder do DEM, senador Agripino Maia (RN).