Título: Justiça decreta prisão de pai e madastra de menina
Autor: Farah, Tatiana ; Rebello, Aiuri
Fonte: O Globo, 03/04/2008, País, p. 13

Contradições entre depoimentos de Alexandre Nardoni e testemunhas ouvidas pela polícia motivaram decisão

Tatiana Farah, Aiuri Rebello* e Plinio Delphino*

SÃO PAULO. A Justiça decretou ontem à noite a prisão do pai e da madrasta de Isabella Oliveira Nardoni, a menina de 5 anos que foi morta na noite de sábado passado, enquanto passava o fim de semana no apartamento do pai. O estagiário de advocacia Alexandre Alves Nardoni, de 29 anos, e a estudante Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, de 24, tornaram-se, para a polícia, os principais suspeitos do crime, investigado pelo 9º Distrito Policial, e podem ser presos a qualquer momento.

A prisão temporária de 30 dias foi decretada pelo juiz Mauricio Fossen, do 2º Tribunal do Júri de Santana, que decretou sigilo das investigações. O juiz tomou a decisão depois de ler despacho favorável à prisão do promotor Sergio de Assis, do Tribunal de Júri de Santana, a parir do pedido de prisão feito pelo delegado Calixto Calil Filho. A decisão do juiz foi divulgada às 20h30m pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Até a conclusão desta edição, o casal não havia sido preso. Havia informação de que eles poderiam se apresentar em qualquer Distrito Policial da capital para evitar o constrangimento de, presos, irem no camburão até o 9º Distrito Policial, onde deverão ficar detidos.

Testemunhas deram versões diferentes sobre o caso

O delegado Calil Filho ouviu ontem, por cerca de quatro horas, o depoimento da mãe de Isabella, a bancária Ana Carolina de Oliveira, de 23 anos, e da avó da menina, Rosa Maria Cunha de Oliveira. O depoimento foi decisivo para que Calil Filho ajuizasse o pedido de prisão, já que as duas, segundo policiais, teriam desmontado a versão de relacionamento harmonioso entre Nardoni, a madrasta e a menina. Embora os relatos iniciais de parentes da menina fossem de que os três se entendiam bem, um vizinho disse que Anna Carolina e Nardoni brigavam bastante, principalmente quando Isabella passava o fim de semana com eles, a cada 15 dias.

Pesaram na decisão do delegado as contradições entre a versão de Nardoni ¿ que disse ter deixado a menina na cama e descido para buscar os outros filhos, encontrando depois o quarto vazio e a tela rasgada ¿ e os relatos de testemunhas ¿ que disseram ter visto a família subir toda junta e relataram ter ouvido gritos de criança depois. Uma testemunha disse ter ouvido uma criança gritar ¿pára, pai, pára¿. O advogado de Nardoni, Ricardo Martins de São José Filho, disse que a frase poderia significar que a menina pedia que a pessoa que a agredia parasse, ao mesmo tempo em que chamava o pai.

Isabella teria sido jogada ou caído pela janela do apartamento, já que a rede de proteção estava cortada. A versão de Nardoni é que alguém estava no apartamento e jogou a menina. Nardoni falou de um pedreiro do condomínio com quem teria discutido, sugerindo que ele pudesse ter atacado a menina. A polícia descartou essa versão.

Ontem, o delegado, diferentemente do que vinha fazendo, não deu entrevista. O advogado do casal, depois do pedido de prisão, foi à delegacia, mas não falou com os jornalistas.