Título: Presidente escala defensores para Dilma
Autor: Camarotti, Gerson; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 02/04/2008, O País, p. 8

Planalto quer que ministra retome agenda positiva anterior às denúncias de vazamento de dados de dossiê

BRASÍLIA. O excesso de exposição negativa da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, nos últimos dias, levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a escalar um grupo de auxiliares para assumir a defesa do governo e a explicação de dados referentes ao suposto dossiê elaborado no Planalto sobre gastos da gestão tucana. Dilma, que tem dito a interlocutores estar cansada, deve ir ao Rio Grande do Sul com o presidente Lula amanhã, para visitar obras do PAC, mas, semana que vem, ficará fora dos palanques, pois Lula só fará viagens internacionais.

Quem coordenou o levantamento dos dados de gastos do ex-presidente Fernando Henrique e de dona Ruth Cardoso foi Erenice Guerra, secretária-executiva de Dilma. A ministra alega que ela montava um "banco de dados" e não um dossiê.

A estratégia foi discutida na noite de segunda-feira em longa reunião de Lula com ministros e parlamentares aliados. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e na Câmara, Henrique Fontana (PT-SP), além do chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, foram escalados para defender o governo e evitar mais problemas para Dilma.

- É preciso que a base aliada passe a defender o governo. Na hora em que a oposição parte para o ataque, com agressões à ministra Dilma, toda a base tem que reagir - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que tem a missão de multiplicar essa função no Congresso.

Ministra não dorme mais que três horas por dia

Apesar dos sorrisos nos palanques, ao lado do presidente, a ministra contou a parlamentares integrantes das comitivas de Lula país afora que está cansada - só consegue dormir três horas por dia, por causa da crise e da intensa agenda do PAC.

O próprio Lula já parece ter dúvidas de que a exposição de Dilma nos palanques de uma agenda positiva, o PAC, esteja adiantando para baixar a temperatura. Lembrou o caso da viagem ao Paraná, no sábado, quando a aparição de Dilma na imprensa ficou restrita às explicações sobre o dossiê.

O objetivo é que Dilma tente recuperar a agenda positiva que dominou até a denúncia de que o dossiê foi feito na Casa Civil, como o anúncio da descoberta de novas reservas de petróleo, no final do ano passado, na Bacia de Santos. O governo sabe que não será uma tarefa fácil.

Planalto resiste a incluir PF na investigação

Ao mesmo tempo, há grande resistência no Planalto para uma investigação do caso pela Polícia Federal, como ocorreu durante o episódio da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, em 2006, que culminou com a queda do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A ordem é evitar a apuração pela PF, que poderia causar "muito constrangimento", segundo auxiliares de Lula.

- Ninguém deseja mais do que o governo que tudo isso seja esclarecido. Primeiro, não existe dossiê feito pelo governo. Seria como dar um tiro no próprio pé. Bom seria que a pessoa que fez isso se apresentasse e dissesse a razão - disse José Múcio. - A ministra é forte o tempo todo, ela é a grande condutora desse processo (do PAC). Não precisa ser poupada.

O líder Henrique Fontana (PT-RS) ocupou a tribuna da Câmara para defender a ministra Dilma:

- Há a continuidade da lógica de incriminação do atual governo. Vazam o documento, ninguém sabe quem foi, mas os culpados são o governo, a Casa Civil, a ministra. Querem criminalizar o governo, a ministra Dilma. Mas estamos tranqüilos. Ela conta com nosso apoio e esperamos que a oposição recue da posição de acusar uma mulher reconhecida no Brasil pela sua integridade, pela retidão de caráter, pela qualidade de gestora do PAC e pelo papel que desempenha para que o Brasil viva momento tão bom.

COLABORARAM Luiza Damé e Isabel Braga

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