Título: Ação civil propõe abertura de postos 24 horas
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Fonte: O Globo, 02/04/2008, Rio, p. 15

Medida vigoraria até 31 maio e será pedida multa diária de R$50 mil por unidade que descumprir a decisão

Para tentar garantir o melhor atendimento de pacientes com dengue, a Defensoria Pública da União entrará com ação civil pública, com pedido de liminar, para que todos os postos de saúde do Rio funcionem também nos fins de semana, durante 24 horas, até 31 maio. Será pedida ainda multa diária de R$50 mil por unidade que descumprir a decisão. O autor da ação, o defensor público André Ordacgy, disse que considera "lamentável" o fato de a prefeitura praticamente não oferecer atendimento nos postos de saúde aos sábados e domingos numa época de surto da doença.

- Apenas alguns postos municipais abrem nos fins de semana, mas isso tem que ser revertido em época de epidemia de dengue. Não queremos que tumultos, como o que ocorreu no Hospital Cardoso Fontes, no último domingo, se repitam em outros hospitais - disse Ordacgy, que espera apreciação da Justiça já para este fim de semana.

"É uma operação de guerra", diz Sindicato dos Médicos

A iniciativa teve o apoio do presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, que considera fundamental a abertura dos postos e PMAs nos fins de semana. Para ele, as unidades básicas de saúde têm função importante para o tratamento da doença pois são a porta de entrada do sistema público:

- A prefeitura é gestora numa epidemia. O município tem que mobilizar todas as usas instituições. Em outros países que já tiveram epidemia de dengue, como Cuba por exemplo, até clubes de futebol e igrejas foram transformados em ambulatórios de atendimento. É uma operação de guerra.

Ontem, durante a abertura de 94 leitos pediátricos para atender crianças com dengue no Hospital estadual Anchieta, no Caju, o governador Sérgio Cabral mostrou-se favorável à medida e fez um apelo:

- A prefeitura tem mais de cem postos de saúde. Peço que ela abra pelo menos a metade deles durante os fins de semana, por 24 horas. Isso daria conforto e pode salvar vidas - pediu Cabral lembrando que estado e município conhecem as áreas onde há mais casos de dengue e carência dos postos.

Em audiência pública no Senado, os senadores protestaram ao serem informados de que os postos de saúde da cidade fecham nos fins de semana. Diante da reação dos presentes, o secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta Júnior, fez um apelo para que os postos passem a funcionar de segunda a segunda:

- É o momento da sociedade carioca pedir pela abertura dos postos, para que as unidades de saúde não fiquem ainda mais sobrecarregadas.

O senador Flávio Arns (PTPR) citou o exemplo do Mato Grosso do Sul, que ano passado teve 44.211 casos de dengue registrados, mas apenas duas mortes causadas pela doença.

- Pode-se até admitir que o combate ao mosquito demore um pouco, mas é inadmissível que as pessoas morram por falta de atendimento - afirmou o senador, lembrando que no Estado do Rio já são 67 mortos pela dengue.

O epidemiologista Roberto Medronho, do Núcleo de Saúde Coletiva da UFRJ, concordou que os postos de saúde sejam abertos aos domingos.

- Na epidemia, precisamos de médicos em hospitais que não fecham - disse Medronho, que também chamou a atenção para a necessidade de hidratação dos pacientes.

Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria municipal de Saúde informou que trabalha "de forma intensa para possibilitar, em breve, o funcionamento de mais unidades de saúde nos fins de semana, além das que já realizam este atendimento". Segundo a SMS, a prefeitura tem 21 unidades de saúde, seis delas postos municipais à disposição da população por 24 horas.

Emergência em Irajá fez 314 atendimentos

O prefeito Cesar Maia disse ontem que também considerou "bem-vinda" a iniciativa, mas salientou que todas as unidades de saúde devem cumprir a determinação:

- Uma iniciativa dessas é muito bem-vinda, pois se tem a oportunidade de mostrar a resolutividade das diversas alternativas. Espero que a Defensoria Pública acione em todo o estado, para não parecer que há foco político na capital em função de 2008.

No último fim de semana, pacientes que buscavam atendimento em hospitais públicos encontraram filas e falta médicos. Apesar de pacientes afirmarem, na UPA de Irajá, não terem conseguido atendimento na emergência do Hospital municipal Francisco da Silva Telles, no mesmo bairro, ela funcionou normalmente no fim de semana. No sábado e no domingo, foram atendidos na emergência 217 adultos e 97 crianças, sendo que 15 adultos e 27 crianças foram internados com dengue.

DOENÇA CANCELA SIMPÓSIO NO RIO na página 16