Título: Esforços de última hora por Ingrid
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Fonte: O Globo, 02/04/2008, O Mundo, p. 31

Sarkozy exige libertação de refém e envia missão para tratá-la, com apoio de Uribe

BOGOTÁ. Numa tentativa desesperada para salvar a vida da ex-senadora Ingrid Betancourt, a Colômbia aceitou suspender suas operações militares para facilitar o envio de uma missão humanitária francesa para atender os cativos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), horas depois de o presidente Nicolas Sarkozy fazer um apelo em pronunciamento pela TV a Manuel Marulanda, líder da guerrilha, para que liberte a refém. Segundo Sarkozy, Ingrid está à beira da morte e as Farc seriam responsabilizadas pelo que acontecer a ela.

A proposta de Sarkozy foi feita durante uma conversa por telefone com o presidente Álvaro Uribe, na tarde de ontem.

¿ Está em movimento uma missão humanitária para a saúde dos seqüestrados, começando por Ingrid ¿ disse Uribe, acrescentando que a missão seria acompanhada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). ¿ Assim que nossas autoridades forem informadas sobre o local para onde serão transportados os reféns mais enfraquecidos, suspenderemos as operações militares na região.

Uribe não mencionou se a missão recebeu aval das Farc. O CICV, por sua vez, disse que não foi consultado.

Sarkozy: libertação abriria perspectivas de paz

Mais cedo, o presidente colombiano dissera estar disposto a oferecer às Farc ¿todas as condições¿ para a libertação de Ingrid. Uribe ordenara ao Exército determinar a ¿localização humanitária¿ dos reféns: ¿localizá-los, evitar avanço militar e chamar órgãos humanitários¿. Segundo versões ouvidas nos últimos dias, Ingrid sofre de hepatite B, leishmaniose e malária, e teria recebido medicamento para insuficiência cardíaca.

Pouco antes do anúncio, Sarkozy fizera um forte pronunciamento dirigido a Marulanda. Em seu segundo e mais forte apelo ao líder guerrilheiro, o presidente francês lembrou que Ingrid está gravemente doente.

¿ Espero de você uma prova de humanidade, sem a qual tudo estancará de novo. Basta uma decisão de sua parte para salvar uma mulher da morte e manter a esperança de todos os detidos. Tome a decisão: liberte Ingrid ¿ disse Sarkozy. ¿ Não perca a ocasião que se apresenta. Seria um erro político grave, uma tragédia humanitária, um crime. Você seria responsável pela morte de uma mulher.

Liberá-la, por outro lado, ¿tornaria compreensível o discurso das Farc¿ e ¿abriria as perspectivas de paz¿.

¿ Você tem um encontro com a História. Não falte a ele ¿ acrescentou Sarkozy.

Lula manifesta apoio ao apelo de Sarkozy

O apelo demonstra o peso que o caso da ex-senadora, que tem nacionalidade colombiana e francesa, tem na França. Semana passada, Paris se ofereceu para receber guerrilheiros libertados em troca dos reféns. E um avião francês com médicos permaneceu de sexta-feira a domingo na Guiana Francesa para o resgate de Ingrid, caso ele ocorresse.

A mensagem a Marulanda foi feita pouco depois de Sarkozy receber um documento com 600 mil assinaturas pedindo sua ajuda para a libertação da ex-senadora, entregue pelo Comitê de Apoio a Ingrid Betancourt.

¿ Ingrid está pior. Ela iniciou uma greve de fome em 23 de fevereiro, algo que é duro num centro hospitalar, mas que na selva é mortal ¿ disse Arnaud Mangiapan, do comitê.

Na segunda-feira foi divulgada uma carta do secretariado das Farc afirmando que a operação que resultou na morte de Raúl Reyes, em março, interrompeu gestões com franceses para a libertação da ex-senadora. Reyes era o responsável pelo contato, diz o texto divulgado pela Agência Bolivariana de Imprensa.

Sobre o pronunciamento da França, o Palácio do Planalto divulgou um comunicado ontem no qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifesta sua solidariedade ao apelo de Sarkozy, ¿na convicção de que é urgente salvar todos aqueles que se encontram em situação de risco extremo de vida¿. Segundo o Planalto, Lula conversou ontem com Uribe, expressando seu desejo de lograr, no mais breve prazo possível, uma solução humanitária que permita a pronta libertação dos reféns.

Na véspera, em São Paulo, o marido de Ingrid, Juan Carlos Lecompte, pedira a ajuda de Lula para a libertação da refém. Em resposta, o governo brasileiro lembrou que já se colocou à disposição para ajudar, inclusive cedendo o território nacional para uma reunião, mas apenas se for convidado.