Título: Bactéria emergente
Autor:
Fonte: O Globo, 03/04/2008, Ciência, p. 36

Novo micróbio da Amazônia poderia causar 40% dos casos de leptospirose.

Uma bactéria emergente que acaba de ser isolada na Amazônia peruana seria a responsável por até 40% dos casos de leptospirose humana. O micróbio, até então desconhecido, foi identificado por um grupo de especialistas americanos e peruanos que pesquisam doenças infecciosas na região. Eles acreditam que a situação se repita em outras áreas do planeta. Pacientes com as formas mais severas de leptospirose apresentam icterícia, falência renal e hemorragia pulmonar, com alto índice de mortalidade.

Em colaboração com profissionais da Universidade Peruana Cayetano Herdia, o americano Joseph Vinetz coordenou o estudo que levou à descoberta da nova espécie da família Leptospira. O estudo foi publicado na última edição da ¿Neglected Tropical Diseases¿ da Public Library of Science (PLoS).

A leptospirose é uma doença grave, transmitida de animais para o homem, que afeta milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. As taxas de mortalidade variam de 20% a 25% em algumas regiões. A enfermidade atinge principalmente países tropicais, onde áreas pobres urbanas concentram grande número de pessoas em condições precárias de saneamento e regiões rurais em que há exposição à água contaminada pela urina de animais infectados, como ratos.

A descoberta da nova espécie de microorganismo reflete a biodiversidade amazônica, segundo Vinetz, e o micróbio aparentemente evoluiu para se tornar uma das principais causas da doença na região de Iquitos, na Amazônia peruana. Nessa área, Vinetz coordenou um grupo internacional de médicos americanos e peruanos num programa de estudo de doenças infecciosas, que engloba a leptospirose, a malária, entre outras que afetam os países em desenvolvimento.

Os pesquisadores descobriram que a nova espécie Leptospira licerasiae é significativamente diferente das outras formas da bactéria, tanto em nível genético quanto biológico.

¿ Essa linhagem tem características fundamentais diferentes das demais ¿ afirmou Vinetz, acrescentando que o próximo passo do grupo será seqüenciar o genoma da nova bactéria. ¿ Acreditamos que centenas de pacientes estão infectados com essa bactéria, que é tão diferente que os anticorpos para a doença não reagem nos testes usuais para leptospirose.

Ao testar 881 pacientes num estudo clínico sobre febre, os cientistas descobriram que 41% deles apresentavam anticorpos que reagiam apenas à nova linhagem da bactéria, revelando uma incidência muito mais elevada de leptospirose do que se suspeitava.

¿ Essa observação é relevante para outras regiões do mundo onde a leptospirose é comum ¿ disse Vinetz. ¿ É necessário identificar a linhagem correta da bactéria para que o diagnóstico seja acurado.

Desde que a nova Leptospira foi isolada em pessoas, no entanto, o diagnóstico de mais casos foi raro, apesar da grande incidência de anticorpos na população da região.