Título: PT descarta efeitos da crise na eleição
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 06/04/2008, O País, p. 8
Partido confia na popularidade de Lula e se considera imune a escândalos
BRASÍLIA. A cúpula do PT conta com a alta popularidade do presidente Lula para anular qualquer efeito do escândalo dos cartões corporativos e do dossiê sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique na campanha municipal de outubro. Nas reuniões da Executiva nacional realizadas nas últimas semanas, baseados em experiências anteriores, os petistas avaliaram que estão imunes a escândalos. Citam o fato de terem escapado até da contaminação eleitoral do mensalão, a mais grave crise política vivida pelo governo petista.
Em 2006, na reta final da campanha pela reeleição de Lula, o PT foi alvo de outra crise que assustou, a do dossiê dos aloprados, em que dirigentes petistas foram presos com malas de dinheiro, acusados de forjar um dossiê contra tucanos paulistas. O episódio levou a eleição ao segundo turno, mas Lula foi reeleito sem dificuldade.
- Se o mensalão não contaminou a eleição de 2006, imagina se esse dossiê vai atrapalhar! É um episódio muito mais fraco, não chega ao povão - dizia um petista, ao final de uma reunião do partido, semana passada.
Para petistas, debate não chega ao povão
Os poucos que se preocuparam com os reflexos da crise do cartão corporativo e do dossiê antitucano nas eleições municipais passaram a considerar, semana passada, que poderão dividir o ônus do escândalo com a oposição. Isso porque consideram que, com a suspeita de que o vazamento do dossiê foi feito pelo senador tucano Álvaro Dias (PR), o escândalo perde gás e pode nem chegar aos palanques. Dirigentes e candidatos petistas avaliam que esse tipo de debate que se trava no centro do poder, sobre corrupção e/ou ética, não chega ao povão.
- O Álvaro Dias ajudou muito os candidatos petistas. Mostrou que não há aloprados só no PT, mas em todos os partidos. Essa história começou com James Bond e termina com o inspetor Clouseau - ironiza o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR).
Para tentar tirar o foco sobre a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, os governistas pretendiam explorar a eventual participação de setores da oposição no episódio. Agora terão que rever o discurso, pois os oposicionistas voltam com toda carga, por causa das novas evidências de que o dossiê foi preparado na Casa Civil. Eles não vão se contentar em apenas ouvi-la na Comissão de Infra-estrutura do Senado, nos próximos 30 dias.
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