Título: O cimentinho do PAC no Rio
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 06/04/2008, O País, p. 10

Vice de Cabral, elogiado por Lula e ex-adversários, Pezão abre caminho para 2010

Admirador do falecido governador tucano Mario Covas, ex-adversário do PT e ex-pedetista, o vice-governador e secretário estadual de Obras, Luiz Fernando Pezão, é a mão de ferro do governo do peemedebista Sérgio Cabral. Tanto empenho o transformou em vedete nacional: ele e a ministra Dilma Rousseff foram apontados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o "casal do PAC". O método de trabalho dele na administração das obras foi usado como modelo por Lula para gestores de todo o país. A partir de julho, ganhará mais uma atribuição. Será o coordenador da campanha peemedebista no município, com a missão de turbinar a campanha do petista Alessandro Molon.

Nada que o faça mudar a religiosa rotina de tomar café com pão na padaria Rio-Lisboa, perto de seu apartamento, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Ou que o impeça de fugir para Piraí, município onde nasceu e foi prefeito por dois mandatos, de 1996 a 2004. Lá, joga baralho com os amigos e caminha pela cidade. Nos fins de semana que passa no Rio, freqüenta botequins do Flamengo, também na Zona Sul, onde morou por um ano.

- Eu não posso dispensar a segurança, porque há normas. Se acontecer algo, é o governo que é atingido. Se pudesse, dispensava essa porrada de homem que fica andando atrás de mim - diz Pezão.

Luiz Fernando de Souza, Pezão desde os 15 anos, só lamenta a falta de um prazer: comprar sapatos de que goste em sapatarias convencionais no Rio. Para o seu pé, tamanho 48, só é possível adquirir pares sob encomenda. Caso queira "modelos mais modernos", tem que ir a uma sapataria em São Paulo que vende tamanhos acima de 45.

- A moçada me deu esse apelido. Eu geralmente era goleiro. E eles diziam que era só eu abrir o pé que o gol fechava.

Pezão hoje tem trânsito livre no Palácio do Planalto. Nem sempre foi assim. São Pidão que o diga: a imagem, que ganhou de presente de uma freira quando era prefeito de Piraí, o acompanhava a cada viagem a Brasília, em busca de verbas para o município. O santo gordinho não sai da mesa de trabalho de Pezão. Hoje, por ordem de Lula, fala cotidianamente com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Já se tornaram parceiros. Pezão a defende:

- Ela é muito forte, muito competente. Acho difícil que o presidente tome alguma decisão mais drástica (como conseqüência do caso do dossiê contra tucanos). Ela tem informações sobre o andamento de cada obra do governo. É muito técnica - diz Pezão, com bom humor para falar de boatos sobre sua relação com a ministra:

- Nós nos entendemos bem. Sei que surgiram boatos sobre nós. Mas imagina. Eu sou casado há 14 anos e ela tem namorado.

A mulher de Pezão há 14 anos é uma espécie de Dilma Rousseff de Piraí. É secretária de Fazenda da cidade há 25 anos.

- Eu me casei com ela quando ela era secretária. Ela trabalhou também com meus adversários - diz Pezão, que adotou os dois filhos da mulher, Maria Lúcia, de 29 e 27 anos.

Também há mágoas no caminho de Pezão. Indicado como candidato a vice de Cabral pelo ex-governador Anthony Garotinho - de quem foi chefe de gabinete, na gestão passada -, o vice-governador hoje perdeu o contato com o ex-aliado. Pezão também transformou adversários em aliados. É o caso do secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, um crítico ferrenho do governo Garotinho:

- Ele é o cimentinho da nossa construção. É um agregador. Tem um jeito de caipirão, que o Lula e todo mundo adora - derrama-se Minc, que fala com Pezão quatro vezes por dia, "muito mais" do que com o governador.

Cabral, que já deixou o estado nas mãos de Pezão pelo menos dez vezes - em viagens ao exterior -, insiste para que o vice registre o nome e o transforme em marca política. Oficialmente, Pezão nega. Mas é uma opção para a sucessão estadual em 2010. (Maiá Menezes)