Título: Oposição dribla CPI e convoca Dilma em comissão
Autor: Vasconcelos, Adriana; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/04/2008, O País, p. 9

Governo reage e adianta que chefe da Casa Civil só falará sobre as obras do PAC, não sobre cartões ou dossiê.

BRASÍLIA. Num cochilo dos líderes governistas, a oposição aprovou ontem a convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para depor na Comissão de Infra-estrutura do Senado, em data ainda não marcada, para falar sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O objetivo, no entanto, é interpelá-la sobre o mau uso do cartão corporativo e sobre o suposto dossiê com gastos sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A convocação de Dilma foi aprovada enquanto a CPI do Cartão Corporativo, com maioria governista, derrubava mais uma série de requerimentos de convocação de sua principal auxiliar, Erenice Guerra, e outros funcionários da Casa Civil. Em outra frente, a oposição quer criar mais uma CPI, só no Senado, sobre cartão corporativo.

Sem representante da base presente na Comissão de Infraestrutura, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) apresentou o pedido de convocação da ministra, e o presidente da comissão, Marconi Perillo (PSDB-GO), fez um aditivo propondo que ela também desse explicações sobre cartões corporativos. O aditivo, contudo, foi retirado quando o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), chegou e ameaçou recorrer ao plenário:

- Está entre as atribuições dessa comissão discutir o PAC, mas não os cartões corporativos. Se houver exploração política, vamos transformar a convocação em convite.

Mantida a convocação, Dilma terá de marcar uma data nos próximos 30 dias. Jucá adiantou a estratégia governista:

- Ela não precisará nem falar, não é senadora. Não permitiremos abusos. Dentro da regra, discutiremos tudo. No grito, a oposição não levará nada. Podem tirar o cavalinho da chuva.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), desafiou:

- Tanto posso perguntar sobre o PAC como sobre o tempo ou o dossiê que fizeram contra Fernando Henrique Cardoso. Acordo se aceita ou não. O meu acordo é para que se aprofunde a investigação e a democracia.

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, também avisou que o governo não permitirá que Dilma seja submetida a constrangimento.

- Se for para falar sobre o PAC, não tem nada demais. Mas, se for para criar constrangimento político, aí seremos obrigados a zelar - advertiu.

O quórum na comissão foi possível graças a dois rebeldes da base, Expedito Júnior (PR-RO) e Geraldo Mesquita (PMDB-AC), que não atenderam aos apelos para esvaziar a sessão.

Enquanto isso, na CPI a bancada governista voltava a tratorar a oposição, impedindo a convocação de Erenice Guerra, que, segundo a "Folha de S.Paulo", teria elaborado o dossiê anti-tucano; de sua chefe de gabinete, Maria de La Soledad Bajo Castrillo; e de mais seis ecônomos responsáveis pelas compras da Presidência.

A operação em bloco levou a presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), a defender o fim antecipado dos trabalhos na semana que vem. Mas, para impedir o fim da CPI agora, os governistas aprovaram a convocação do diretor do Banco do Brasil Alexandre Corrêa Abreu, para falar sobre os cartões. Com poucos minutos de sessão, Marisa anunciou que decretaria o fim da CPI se os pedidos de convocação fossem rejeitados, como O GLOBO antecipou ontem:

- Não tendo quem ouvir ou o que investigar, vamos suspender as reuniões de plenário e dar prazo ao relator para entregar o seu parecer.

- Proponho que a gente não vote absolutamente nada nessa CPI enquanto o senador Álvaro Dias não se explicar - cobrou o deputado governista Silvio Costa (PMN-PE), sobre a suspeita de que o tucano vazou o dossiê.

No início da noite, no plenário do Senado, os líderes do PSDB, Arthur Virgílio, e do DEM, José Agripino, solicitaram ao presidente Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) que fizesse a leitura do requerimento para instalação de uma CPI exclusiva na Casa.

- Se tiver mil requerimentos, eu leio os mil, mas chego lá - afirmou Garibaldi, marcando para terça-feira a leitura do pedido de nova CPI.

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