Título: Brother Sam teve ajuda de general brasileiro
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 06/04/2008, O País, p. 18
Contato seria Ulhoa Cintra, braço direito de Castelo Branco
A operação ¿Brother Sam¿, deflagrada pelos EUA em apoio ao golpe de 64 no Brasil, foi preparada com a colaboração de militares brasileiros, especialmente o general-de-brigada José Pinheiro de Ulhoa Cintra, braço direito de Castelo Branco. De acordo com o professor de História Carlos Fico, autor de ¿O grande irmão¿, os documentos consultados nos arquivos do governo americano desmontam a justificativa de que a operação era desconhecida dos brasileiros.
Ulhoa Cintra, segundo o livro, seria o contato brasileiro, cuidando da entrega de armas e munição e do combustível. Castelo Branco, que considerava o general ¿um dos grandes revolucionários do Exército¿, conhecia Ulhoa Cintra desde os tempos em que este era seu cadete na Escola Militar. Mais tarde, fora seu subordinado na campanha dos expedicionários na Itália.
Excluído da lista de promoções de novembro de 1963, Ulhoa Cintra odiava Jango. Segundo o livro, ele era considerado um homem ¿violento, querendo fazer bobagem¿ ¿ nas palavras de Costa e Silva ¿ e estava profundamente envolvido na conspiração.
Em mensagem ao Departamento de Estado, o embaixador americano no período, Lincoln Gordon, revela o papel de Ulhoa Cintra na montagem da ¿Brother Sam¿: ¿Na semana vindoura, seremos notificados das estimativas sobre a necessidade de armas através do contrato entre o adido militar, Vernon Walters, e o general Cintra, braço direito de Castelo Branco¿.
Propaganda americana incluiu viagem de políticos
Outra revelação de ¿O grande irmão¿, sobre a relação entre os governos americano e brasileiro, do golpe ao presidente Medici, é a atuação do Usis (United States Information Service) buscando conquistar a simpatia para os Estados Unidos de lideranças brasileiras e combater, assim, o antiamericanismo.
O Usis fazia todo tipo de propaganda (filmes, como ¿A força e o homem¿, programas de rádio e TV etc.), mas a iniciativa mais eficaz era convidar políticos para visitar os EUA. Os jovens parlamentares Mario Covas e José Sarney foram mencionados como exemplos pelo terceiro secretário da embaixada americana em Brasília, Robert Bentley.
O livro também menciona a existência de um ¿Plano de defesa interna¿, feito pela embaixada americana em março de 1964. Com base em informações que lhe foram passadas pelo Exército brasileiro, o embaixador Lincoln Gordon constatou a fragilidade da estrutura de segurança pública do Brasil, razão pela qual teria insistido na solicitação de armas, mesmo antes da operação ¿Brother Sam¿.