Título: Lula: Não podemos exagerar no otimismo
Autor: Freire, Flávio; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 04/04/2008, Economia, p. 25
Para presidente, há muito a ser feito para crise externa não contaminar o Brasil. "Se tiver azar, país entrará em situação difícil", diz
RIO GRANDE (RS) e BRASÍLIA. De olho na crise americana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil não deve exagerar no otimismo, mesmo com a estabilidade da economia do país. Segundo ele, "o projeto do Brasil não está ainda pronto" e é preciso cautela para que crises internacionais não contaminem o país.
- Obviamente o projeto do Brasil não está ainda pronto. Tem muita coisa a ser feita. É preciso muito investimento, muita serenidade nesse momento em que a economia está bem, mas os sinais da principal economia do mundo não estão bem. Não podemos ficar exagerando no otimismo - disse Lula, em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, onde visitou a plataforma P-53 da Petrobras e um dique seco.
Lula rebateu aqueles que dizem que a economia do país vai bem apenas por sorte:
- Alguns dizem que eu tenho muita sorte e eu levanto todo dia pela manhã e peço a Deus que me dê cada dia mais sorte, porque, se eu tiver cada dia mais azar, eu acho que não apenas eu, mas o país, entrará em uma situação muito difícil.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e os interlocutores de Lula na área econômica vêm insistindo, nas reuniões de avaliação no Palácio do Planalto, que mudanças na política monetária só devem ser definidas depois que estejam claros os efeitos da crise sobre o Brasil. Argumenta-se que é preciso esperar para ver o quanto serão afetados os preços internacionais das commodities - que têm impacto sobre a inflação e as exportações - e o crescimento. Uma das grandes preocupações é com a idéia de o Banco Central (BC) implementar, mais uma vez, uma ação preventiva.
Segundo técnicos da Fazenda, o BC se preocupa com as expectativas de inflação e com a situação internacional. No entanto, as expectativas estão em linha com a meta de 4,5% de inflação. Em 2008, espera-se variação entre 4,47% (analistas financeiros) e 4,6% (BC). Para 2009, os investidores esperam que o IPCA fique em 4,3%. Já o cenário com o qual o BC trabalha - mantendo a Selic e o câmbio estáveis - prevê que o índice feche 2009 em 4,4%. O cenário externo, por sua vez, está volúvel demais para definir se é preciso elevar juros agora.