Título: Zimbábue prende correspondentes estrangeiros
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Fonte: O Globo, 04/04/2008, O Mundo, p. 31

Prédio onde estão hospedados repórteres é vigiado. Mugabe deve disputar 2º turno.

HARARE. Em um sinal de que não pretende entregar o poder para oposição, pelo menos por enquanto, o governo do Zimbábue endureceu ontem com a imprensa estrangeira ¿ prendeu dois repórteres, um deles do ¿New York Times¿, e mantém vigiado um prédio onde vivem jornalistas estrangeiros ¿ e declarou que o presidente Robert Mugabe deverá participar de um eventual segundo turno das eleições. Mugabe apareceu ontem pela primeira vez em público desde sábado e comandará, hoje, uma reunião de cúpula de seu partido, o Zanu-PF, provavelmente para definir a estratégia política a ser adotada.

Escritórios na capital, Harare, do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), principal partido de oposição, também teriam sido vasculhados ontem por policiais, segundo lideranças políticas, mas ninguém foi preso.

Zanu-PF se diz confiante em vitória no segundo turno

Os resultados das eleições presidenciais devem ser divulgados ainda hoje, segundo a Comissão Eleitoral. Especula-se que, ao mesmo tempo, Mugabe anunciará o que vai fazer. Segundo fontes dentro do governo, o mais provável é que os resultados apontem para um segundo turno e Mugabe aceite concorrer.

¿ A reunião de amanhã (hoje) definirá o que o partido vai fazer. A disputa (de Mugabe) em um segundo turno deve acontecer se as urnas confirmarem. Da perspectiva do Zanu-PF, estamos muito confiantes de que poderemos vencer em um segundo turno ¿ disse o vice-ministro da Informação, Bright Matonga.

O medo entre analistas é que o MDC ¿ que declarou presidente eleito seu candidato, Morgan Tsvangirai, na quarta-feira ¿ não aceite um eventual segundo turno e inicie uma onda de violência semelhante à que ocorreu no Quênia logo após as eleições presidenciais. Segundo o MDC, Tsvangirai venceu as eleições com mais de 50% dos votos e, portanto, não precisaria concorrer num segundo turno.

Justificativa para prisão é falta de credenciamento

Enquanto os resultados das eleições presidenciais não são divulgados, o governo intensifica a repressão contra correspondentes estrangeiros. A polícia deteve ontem, em um hotel na capital, Barry Bearak, correspondente do ¿New York Times¿ na África do Sul e enviado especial ao Zimbábue para cobrir as eleições. O outro jornalista não teve sua identidade divulgada.

¿ Eles estão sendo investigados por exercer seu ofício sem credenciamento, o que é ilegal em nosso país ¿ justificou um porta-voz da polícia.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) protestou contra as prisões e exigiu a libertação imediata dos dois correspondentes.

¿ As informações que recebemos de Harare são alarmantes. Exigimos a libertação imediata dos dois jornalistas, que estão no país para cobrir as eleições presidenciais ¿ disse o diretor-executivo do CPJ, Joel Simon. ¿ Durante visitas em situações políticas como essa, é imprescindível que jornalistas, estrangeiros e locais, possam trabalhar livremente. Pedimos à comunidade internacional que pressione pela libertação.

Segundo testemunhas, um prédio na capital onde vivem correspondentes estrangeiros também está sendo vigiado por policiais.