Título: Meirelles diz que Brasil tem três antídotos contra recessão nos EUA
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 06/04/2008, Economia, p. 37
Para ele, mudar regime de câmbio é `incompatível¿ com controle da inflação
MIAMI BEACH. A perspectiva de os Estados Unidos entrarem numa recessão em breve, tornando ainda mais aguda a atual crise de crédito em todo o mundo, preocupa o governo brasileiro, mas não muito, segundo deixou claro ontem o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. O país, segundo ele, conta com três antídotos que, combinados, ¿dão um relativo conforto, ainda que uma recessão americana não seja boa para ninguém¿:
¿ O regime de câmbio flutuante mais as reservas elevadas dão tranqüilidade ao país, e há condição de fazer algum tipo de ajuste, caso surja a necessidade. Além disso, continua a haver um nível de confiança, porque a economia brasileira tem um crescimento hoje impulsionado pela demanda doméstica, baseada na expansão da renda e do crédito ¿ disse Meirelles em entrevista na manhã de ontem.
Perguntado sobre a possibilidade de o Brasil mexer no sistema cambial, destacou que seria ¿incompatível¿ com os esforços de um país para preservar a taxa de inflação sob controle.
¿ O importante é que o Brasil tem um sistema de metas de inflação, está comprometido com isso e não adotará nenhum outro regime que ponha em risco esse sistema ¿ disse Meirelles, que está em Miami Beach participando da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e mantendo contatos com banqueiros internacionais.
Segundo ele, a confiança do governo na capacidade de o país suportar eventuais turbulências se deve, ainda, ao fato de continuar entrando um sólido volume de investimentos diretos estrangeiros.
¿ Essas aplicações não estão impulsionadas por fatores financeiros, e sim pela demanda doméstica, que continuará forte no Brasil ¿ afirmou, acrescentando que o BC ¿analisa com cuidado, o tempo todo, o equilíbrio entre a oferta e a demanda¿ para evitar surpresas desagradáveis.
Como de hábito, Meirelles evitou dar pistas sobre uma eventual mudança na taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontecerá na terceira semana deste mês. Para ele, é mais conveniente se preocupar com a inflação do que com os juros.
¿ Subir e descer a taxa de juros faz parte da rotina de bancos centrais no mundo inteiro. O importante não é o movimento da taxa de juros, mas sim a inflação estar dentro da meta, com o país crescendo, a economia permanecendo estabilizada e os empregos sendo criados.
BID: América Latina é vulnerável a efeitos do clima
Meirelles insistiu para que os brasileiros dêem mais atenção aos fundamentos da economia do país do que às especulações sobre os juros:
¿ Ter a inflação dentro da meta dá condições para as famílias e as empresas planejarem, fazerem os seus investimentos com tranqüilidade, e a economia crescer. E é isso o que está acontecendo no Brasil.
Especialistas e representantes do BID disseram ontem que a América Latina é muito vulnerável aos efeitos do aquecimento global e que deve implementar políticas e práticas para reduzi-los, respaldando, por exemplo, a produção de biocombustíveis. Do lado de fora do encontro, porém, manifestantes protestaram contra a política da instituição para enfrentar o problema climático na região.
(*) Com agências internacionais