Título: País desenvolve método contra o enfisema
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 06/04/2008, Ciência, p. 46

Implante de válvulas nos brônquios pode evitar o transplante de pulmão em pacientes em estado mais grave

Pessoas que sofrem de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que inclui enfisema pulmonar e bronquite crônica grave, podem se beneficiar de uma técnica ainda experimental que melhora a capacidade respiratória e promete evitar o transplante de pulmão, a única saída em alguns casos. Médicos pesquisam o implante, por meio de broncoscópio, de microválvulas (semelhante a stents na cardiologia) nos brônquios para recuperar a função pulmonar.

No Rio, a pesquisa está sendo realizada por especialistas do serviço de pneumologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (da UFRJ).

Melhor qualidade de vida com o procedimento

A DPOC é uma doença grave e causa 2,75 milhões de mortes por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde. É a quarta maior causa de morte no mundo. Estima-se que no Brasil o número de pacientes alcança sete milhões.

A nova técnica para controlar a DPOC consiste no implante de microscópicas válvulas unidirecionais em pacientes selecionados, e em estado mais grave. Elas ajudam a esvaziar o pulmão e evitam a reentrada do ar. O procedimento é feito em uma sessão.

¿ Fazemos o implante de oito válvulas de cerca de 1 milímetro. Os pacientes apresentam melhor qualidade de vida. Eles já conseguem realizar atividades antes impossíveis, como subir escadas e fazer longas caminhadas ¿ diz a médica Marina Andrade Lima, uma das responsáveis pela pesquisa no HUCFF. Além da UFRJ, o Hospital da Santa de Misericórdia de Porto Alegre e da Escola Paulista de Medicina participam do estudo no Brasil.

A DPOC é crônica, progressiva e irreversível. A causa pode ser genética, devido à deficiência de uma enzima importante para o funcionamento do pulmão (alfa 1 antitripsina). Mas o hábito de fumar e a tuberculose são fatores de risco. Os fumantes representam o maior grupo de risco, pois 20% desenvolvem a doença e 80% daqueles que sofrem do mal são fumantes ativos.

¿ Antes, o maior número de pacientes era do sexo masculino. Hoje não há mais essa relação de gênero, pois as mulheres estão fumando mais. Os fumantes passivos também estão vulneráveis. Outro fator de risco importante no interior do país é a inalação de fumaça de fogões à lenha ¿ diz.

Os principais sintomas da DPOC são cansaço, tosse, chiado no peito, sensação de falta de ar e dificuldade para realizar tarefas rotineiras, inclusive em relação a esforços físicos simples, como cruzar as pernas e amarrar o cadarço. Só no ambulatório do HUCFF são atendidos mensalmente cerca de 200 pacientes. O setor também é referência latino-americana no tratamento de hipertensão arterial pulmonar, pneumonia e fibrose pulmonar.

O diagnóstico é clínico e confirmado com prova de função pulmonar. Quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de evitar a piora. O tratamento inclui medicações inaladas e reabilitação fisioterápica. O paciente aprende até exercícios para economizar a respiração. O trabalho psicológico é essencial.