Título: Pai de Isabella tem sigilo telefônico quebrado
Autor: Christiano, Cristina; Borges, Danielle
Fonte: O Globo, 07/04/2008, O País, p. 4
Anna Carolina, madrasta da menina morta, também terá suas ligações rastreadas, por decisão da Justiça
SÃO PAULO. A polícia pediu, e a Justiça já concedeu a quebra de sigilo telefônico do consultor jurídico Alexandre Nardoni, de 29 anos, e de sua mulher, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá Nardoni, de 24. O objetivo é identificar as ligações feitas pelo casal no período que antecedeu a morte da menina Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, e nos minutos seguintes. Se Alexandre e a mulher fizeram alguma ligação, a polícia deverá interrogar os interlocutores para descobrir o teor das conversas. Os policiais também querem confrontar o levantamento das empresas de telefonia com informações colhidas durante os depoimentos de testemunhas e do casal.
Segundo o promotor Francisco Taddei Cembranelli, ainda há muitos pontos divergentes no caso, principalmente entre o depoimento do casal e o que a perícia encontrou até agora. Para ele, a reconstituição da morte de Isabella é imprescindível para sanar as dúvidas.
Reconstituição ainda não tem data para acontecer
Apesar disso, a polícia e o Ministério Público ainda não definiram a data da reconstituição, nem de um novo depoimento do casal, preso desde quinta-feira.
¿Temos que aguardar os laudos, com as conclusões definitivas da perícia, para ter um quadro mais próximo da realidade. A partir de uma visão panorâmica de tudo, então, será possível inquirir o casal com base naquilo que foi encontrado ¿ disse o promotor.
Informalmente, peritos comentam, com base em levantamentos preliminares, que é bem provável que Isabella tenha sofrido espancamento antes de ser jogada da janela do sexto andar do prédio onde moram o pai e a madrasta, na Rua Santa Leocádia, na Vila Isolina Mazzei, na Zona Norte. Era lá que a menina passava os finais de semana com o pai a cada 15 dias.
Violência pode ter começado antes da chegada ao prédio
Isabella apresentava um ferimento na testa, causado antes da queda, fratura no pulso, além de escoriações nas pernas e hematomas em várias partes do corpo, principalmente na nuca. Para os peritos, os machucados podem ser indícios de agressão, que pode ter começado antes de a família chegar ao prédio.
Os peritos encontraram manchas de sangue no Ford Ka da família, no carrinho do bebê que estava no banco e na maçaneta da porta do motorista. Também havia marcas de sangue no corredor do prédio, no hall, no quarto da criança, no lençol, no parapeito da janela e nas paredes. Segundo o promotor, os pingos poderiam ser vistos até mesmo por um leigo.
Outro detalhe que chamou a atenção dos peritos foi o fato de Isabella ter sido encontrada, no jardim do prédio, com a língua para fora, fato que é incomum em casos de queda. Além disso, a menina apresentava manchas escuras no pulmão e as pontas dos dedos arroxeadas, que podem ser indícios de asfixia ou esganadura.
No dia do crime, Alexandre, a mulher, os dois filhos do casal ¿ de 3 anos e 11 meses ¿ e Isabella estiveram na casa dos pais de Anna Carolina, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Saíram de lá à noite e, antes de voltar ao prédio, pararam na praça de alimentação do Sam¿s Club, onde foram filmados pelas câmaras do circuito interno de TV. Segundo funcionários, a menina parecia estar muito bem.
A defesa do casal vai entrar na Justiça hoje com um pedido de habeas corpus. O advogado Marco Polo Levorin disse que vai questionar a falta dos requisitos legais para o pedido da prisão.
¿ Nenhuma prova deixou de ser produzida com eles soltos, ao contrário, sempre houve colaboração. Eles têm residência fixa e nunca coagiram as testemunhas ¿ disse o advogado.
Presos, pai e madrasta de Isabella recebem visitas
Anna Carolina, madrasta de Isabella, recebeu ontem a visita de outros dois advogados, Ricardo Martins e Rogério Nery. Eles chegaram ao 89º DP pouco depois de terem visitado Alexandre Nardoni, preso no 77º DP. A visita durou pouco mais de 20 minutos. Os advogados entraram apressados levando uma sacola de supermercado para a cliente. No final da visita, disseram que Anna Carolina está bem.
¿ Ela está conversando com as outras presas ¿ limitaram-se a responder os advogados.
(*) Do Diário de S.Paulo
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