Título: Governo fecha o cerco e busca um culpado
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/04/2008, O País, p. 8

A MÃE DO PAC NA BERLINDA: Servidor, que está no Planalto desde 2003, levado por Dirceu, deve ser convocado por CPI.

Suspeitas recaem sobre secretário de Controle Interno da Casa Civil, que teria destacado funcionários para montar banco de dados.

BRASÍLIA. Com os novos indícios de que o dossiê com gastos sigilosos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi produzido dentro da Casa Civil, no Palácio do Planalto, o governo decidiu fechar o cerco aos suspeitos de terem vazado as informações, à procura de um culpado. Ontem, a investigação interna restringia a suspeita a dois funcionários escalados em fevereiro pelo secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires. Eles foram selecionados para montar um banco de dados com informações de gastos com contas do tipo B entre 1998 e 2002 - segundo mandato de Fernando Henrique.

Casa Civil resiste à entrada da PF na investigação

A sindicância interna para apurar o episódio foi aberta na semana passada, depois que a revista "Veja" divulgou a existência do suposto dossiê. Ontem, assessores do Planalto temiam as conseqüências de uma investigação que aponte um único culpado. O receio é que, pressionado, esse funcionário possa provocar desgaste ainda maior ao governo, ao alegar em sua defesa que obedecia a uma ordem de comando. Há um grande esforço do Planalto para isolar a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, do episódio.

Também há forte resistência na Casa Civil à entrada da Polícia Federal no caso. Assessores palacianos alegam que isso causaria grande constrangimento ao governo. Ontem, Dilma Rousseff admitiu que cinco computadores da pasta seriam periciados.

Os governistas estão mais interessados em encontrar um culpado pelo vazamento do que provar a origem do dossiê. No quarto andar do Planalto, onde está localizada a Casa Civil, assessores costumam apontar o prédio do anexo III da Presidência para indicar de onde teriam vazado os dados sigilosos. É onde fica a Secretaria de Controle Interno da Casa Civil.

Desde que começou a sindicância, o secretário de Controle Interno, José Aparecido, tem sido questionado sobre o vazamento. Funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU), ele é homem de confiança do ex-ministro José Dirceu, antecessor de Dilma na Casa Civil. Goiano de Jataí, ele está no cargo desde janeiro de 2003.

Em conversas reservadas, Aparecido conta que cedeu dois de seus funcionários em fevereiro, por determinação da Casa Civil. A suspeita do governo é que um dos dois assessores de Aparecido teria vazado os dados para amigos ligados ao PSDB. Segundo esta versão, no início de fevereiro, houve um pedido formal do secretário de Administração da Casa Civil, Norberto Temoteo de Queiroz, para que vários órgãos cedessem funcionários para um levantamento dos gastos da Presidência entre 1998 e 2002. Também participaram dessa reunião o diretor de Orçamento e Finanças, Gilton Sabacik Maltez, e a atual diretora de Recursos Logísticos, Maria de La Soledade Bajo Castrillo, que até recentemente era chefe de gabinete da secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra.

Os três liberaram dois funcionários de cada órgão da Casa Civil para ajudar no levantamento. A um amigo, Aparecido afirmou que o esforço do grupo "não era para produzir um dossiê", mas sim para "levantar dados para municiar a CPI do Cartão Corporativo". Essa foi uma das versões admitidas pelo Planalto para justificar o banco de dados.

Na CPI do Cartão Corporativo, José Aparecido é alvo de dois requerimentos de convocação que ainda não foram votados: um da oposição, apresentado pelos deputados Índio da Costa (DEM-RJ) e Vic Pires (DEM-PA), e outro da base, assinado pelo deputado Maurício Quintella (PR-AL). Ambos foram apresentados antes de o dossiê vir a público, o que indica que os parlamentares podem ter se motivado apenas por sua funções no controle interno.

Procurado ontem pelo GLOBO, José Aparecido não atendeu o pedido de entrevista.

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