Título: Política x economia
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 07/04/2008, Economia, p. 20
A política pode atrapalhar a economia este ano. Face aos temores de inflação, amplificados por um cenário internacional confuso, o governo teria que tirar o pé do acelerador neste momento, mas o próprio presidente se mostra eufórico com o andar da carruagem. Não por acaso os gastos federais (tanto para custeio como para investimentos) cresceram mais rapidamente agora em 2008.
A expansão das despesas acabou ofuscada pelo salto na arrecadação. O setor público como um todo teve um déficit nominal correspondente a apenas 0,21% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos) nos meses de janeiro e fevereiro, enquanto no primeiro bimestre de 2007, o rombo foi de 1,22%.
No entanto, para o ano como um todo, o Banco Central já aumentou sua projeção de déficit nominal de 1,2% para 1,6% do PIB, pois se prevê que a queda dos gastos com juros será bem tímida em 2008. A possibilidade de alta dos juros básicos na reunião da semana que vem do Comitê de Política Monetária (Copom) é tida como certa pelo mercado financeiro. É uma medida que trará efeitos colaterais nocivos - por serem de longa duração - para a economia e que poderia ser evitada se o governo segurasse suas despesas. Por uns tempos, ao menos. Mas o presidente não dá sinais de que descerá do palanque, o que deixa a equipe econômica sem condições políticas de meter a tesoura nos gastos federais, como seria aconselhável.
O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, convenceu-se de que o aço - principalmente alguns tipos - é um produto de características regionais. "Não existe, na verdade, um preço mundial para o aço", diz. Machado chegou a essa conclusão depois de tentar negociar chapas grossas para os 26 navios que a Transpetro vai construir no Brasil. Ele desistiu de tentar um acordo com o grupo Usiminas/Cosipa para a primeira partida e não recebeu qualquer resposta para as consultas feitas a siderúrgicas japonesas (nem a preços absurdos). O lote inicial de 18 mil toneladas foi fechado então com uma companhia da Ucrânia. De um total de 400 mil toneladas que serão adquiridas no período de cinco anos previstos para a entrega de todos os navios, a Transpetro terá ainda de encomendar mais 19 mil toneladas em 2008.
O primeiro lote de aço irá para os estaleiros Atlântico (Suape, na Bahia) e Mauá (Niterói, no Rio), que, no segundo semestre, estarão cortando as chapas para montar os navios. No ano que vem, a construção começará no estaleiro do consórcio Rio Nave (no Caju, Rio).
Uma segunda rodada de encomendas de navios petroleiros ocorrerá ainda em 2008.
Os construtores da usina hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com o Tocantins, não contavam com tanta chuva em março (choveu lá 26 dias durante o mês), mas mesmo assim os trabalhos continuaram e está mantida a data de 1º de maio de 2009 para o desvio do rio. Em dez meses de obras civis, foram escavadas as áreas do futuro vertedouro (por onde será feito o desvio temporário) e da casa de força, que ficam em margens opostas. Quando o rio for desviado, uma barragem de 480 metros, no meio, poderá será concretada.
Em vez de um pacote fechado, o Ceste - consórcio formado para a hidrelétrica, que tem a participação dos grupos Suez (40%), Vale (30%), Alcoa (25,5%) e Camargo Corrêa (4,4%) - optou por executar a obra pagando por cada etapa aos empreiteiros. Com isso, reduziu o custo. Para acompanhar a obra, o Ceste formou sua própria equipe com profissionais experientes: a média de idade de sua equipe de engenheiros é de 65 anos, todos empolgados com a oportunidade de voltar ao setor. No canteiro de obras já estão trabalhando 1.500 pessoas, a maioria delas proveniente dos 12 municípios na área de influência da hidrelétrica. No pico da construção, cinco mil pessoas trabalharão lá.
Estreito terá uma capacidade instalada de 1.087 megawatts. A primeira de suas oito turbinas está programada para gerar energia em setembro de 2010.
Em maio do ano que vem, quando o rio for desviado, 60% das duas famílias ribeirinhas que precisarão ser reassentadas, por causa do futuro reservatório, já deverão ter se mudado para novas casas e propriedades rurais. A região hoje é muito pobre. Mas, quando a usina gerar energia, só em compensação financeira os dois estados e os 12 municípios receberão R$16,8 milhões por ano.
Em sociedade com o grupo Battistela, a Hamburg Süd/Aliança de Navegação vão começar a construção de um terminal marítimo privativo misto (o que o tornará apto a receber carga de outras companhias) em Santa Catarina, mais precisamente, em Itapoá, a poucos quilômetros de São Francisco do Sul.
O terminal será exclusivo para contêineres, com capacidade inicial para movimentar 300 mil TEUs (contêineres de 20 pés) por ano. O píer, de 600 metros, ficará apenas a 200 metros da costa, e nele poderão atracar os grandes navios que a Hamburg Süd programou para a rota da América do Sul. Essas embarcações poderão carregar 5.900 TEUs e têm um calado de quase 14 metros quando estão completamente carregadas. O calado do novo porto será de 15 metros. O investimento programado para o terminal é de US$100 milhões. O governo catarinense se encarregará de pavimentar a estrada de acesso.