Título: Polícia encontra sangue também no elevador
Autor: Barbosa, Adauri Antunes; Delphino, Plínio
Fonte: O Globo, 05/04/2008, O País, p. 14

Havia manchas no carro e no carrinho do bebê; promotor chama versão do pai e da madrasta de `fantasiosa¿.

SÃO PAULO. Policiais que investigam a morte da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, encontraram ontem novos vestígios de sangue no prédio e no apartamento em que ela estava com o pai, Alexandre Nardoni, no dia do crime. Isabella foi encontrada morta no jardim do prédio no sábado passado. A polícia encontrou sangue em objetos utilizados pelo casal. Havia sangue no carrinho do bebê de 10 meses, irmão da menina, filho do casal; no banco traseiro do carro de Alexandre; na maçaneta da porta do carro; no elevador do prédio; na porta interna do elevador no sexto andar; no saguão do sexto andar; no quarto dos irmãos da menina; e na tela da janela, que foi cortada e por onde ela teria sido jogada.

O promotor Francisco José Taddei Cembranelli, que acompanha o caso, afirmou ontem que a versão apresentada pelo pai e pela madrasta é fantasiosa e reforçou a hipótese de homicídio. Os dois estão presos.

Segundo o promotor, há contradições que precisam ser esclarecidas, reforçadas ontem pelas novas revelações. Cembranelli, que foi na tarde de ontem ao edifício, o Residencial London, confirmou que há vestígios de sangue em um dos quartos do apartamento, paredes, um colchão e um lençol.

¿ O sangue é visível. Existem gotículas de sangue no chão, nas paredes. Existem gotículas no corredor de acesso, na parede, existe uma mancha num colchão, o lençol já foi arrecadado, qualquer leigo ali constataria isso. As verdades até agora não batem. Posso garantir genericamente que a história apresentada no dia do crime e nos depoimentos é fantasiosa.

Apreendidas tesoura e faca usadas para cortar tela

Segundo Cembranelli, há aspectos fantasiosos no depoimento do casal.

¿ O casal, principalmente o pai, menciona para os policiais que o apartamento havia sido arrombado. E a perícia constatou que nada disso aconteceu, além de outros pormenores, mas prefiro não invadir a análise profunda de mérito.

Com o promotor estiveram no prédio o delegado do caso, Calixto Calil Filho, e a delegada Renata Helena, do 9º Distrito Policial (DP). Eles vistoriaram o apartamento e o prédio de onde a menina foi jogada no 6º andar. Ontem o prédio passou por nova perícia. Resultado preliminar do exame toxicológico de Nardoni e Anna Carolina Jatobá indica que o casal não consumiu drogas ou bebidas alcoólicas na noite em que a menina morreu.

A polícia quer recolher as roupas que os dois usavam na noite da morte de Isabella. O material será enviado à perícia para comparação com as imagens gravadas pelo circuito interno do San¿s Club, onde o casal jantou no sábado. De acordo com policiais, as imagens são em preto e branco. O casal pode ter fornecido à polícia roupas diferentes das que usaram na noite do crime. A polícia quer recolher também sapatos do pai e da madrasta de Isabella. A perícia identificou uma pegada feita por um sapato com solado de borracha em um lençol da casa e vai fazer comparações.

O Instituto de Criminalística revelou que o buraco na tela da janela foi feito por dois instrumentos: uma tesoura e uma faca, já apreendidas. Para policiais envolvidos na investigação, isso pode demonstrar que houve pressa do assassino. Marcas de sangue no parapeito e ferimento no queixo de Isabella levam a polícia a constatar que a menina foi pendurada pelos pés e depois largada para queda livre. Antes de chegar ao gramado, ela bateu no parapeito e também com as costas em um arbusto.

Segundo o Instituto de Criminalística, há marcas de sangue na fachada do prédio, abaixo do parapeito do 6º andar, como se as mãos da menina, soltas, tivessem sido arrastadas na parede. A expectativa da polícia é a de que o laudo aponte asfixia mecânica como causa da morte. A perícia também fez teste com objeto de 21,5 kg, o peso da garota, para analisar marca e afundamento no gramado do edifício. A polícia afastou a possibilidade de Isabella ter cortado a tela sozinha. O buraco foi feito meio metro acima do parapeito, impossível de ser alcançado pela garota. O ferimento encontrado na cabeça da criança ocorreu antes da queda, segundo a polícia. De acordo com o promotor, a hipótese de que Isabella tenha sido assassinada só poderia ser afastada se surgisse fato novo na investigação.

¿ A menina não foi por suas próprias forças até o local, cortou a tela de proteção e se atirou.

* Do Diário de S.Paulo