Título: Estatais ampliam gastos no ano
Autor: Novo, Aguinaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 05/04/2008, Economia, p. 35

Investimentos têm alta de 30% frente a 2007, para R$5,9 bi.

BRASÍLIA. Mesmo sem Orçamento aprovado, no início deste ano a máquina pública colocou o pé no acelerador dos investimentos, ajudando a aquecer a atividade econômica e assustar os analistas econômicos. Além da administração direta, que no primeiro trimestre de 2008 aplicou R$3,446 bilhões, o maior volume de recursos dos últimos oito anos, as estatais federais também incrementaram os gastos. Dados divulgados pelo Departamento de Coordenação das Estatais, do Ministério do Planejamento, apontam que, em janeiro e fevereiro, as empresas do governo investiram R$5,922 bilhões, cerca de 9,5% da dotação anual - valor 30,4% superior aos R$4,540 bilhões desembolsados no mesmo período de 2007.

De acordo com levantamento da ONG Contas Abertas, trata-se do maior volume de gastos dos últimos 13 anos. Esse volume recorde de dinheiro público no início do ano, que ajuda a impulsionar a demanda doméstica e coloca mais lenha na fogueira da inflação, é um dos argumentos do Ministério da Fazenda para pleitear o contingenciamento de R$20 bilhões nos recursos orçamentários. No Ministério do Planejamento, a torcida é por um corte menor, de R$14 bilhões. O tamanho do contingenciamento está na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a decisão deverá ocorrer na próxima semana.

Os investimentos em petróleo e gás natural puxam a fila. O Grupo Petrobras investiu R$5,450 bilhões, o que representa 10,8% do previsto para o ano. As estatais do Grupo Eletrobrás gastaram R$343 milhões em janeiro e fevereiro. Somente Furnas, que venceu a licitação da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, despendeu R$133 milhões, o equivalente a 11,7% do previsto para o ano.

Aplicação média diária do PAC dobra em relação ao ano passado

Em 2008, impulsionadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as estatais terão investimentos inéditos. Serão R$62,122 bilhões, um volume 16% maior do que os R$53,280 bilhões alocados em 2007 - que já superaram 2006 em 14,6%. Em 2007, as estatais gastaram R$39,973 bilhões da dotação anual, o que corresponde a 75% do total.

Sem restrições da não-aprovação do Orçamento - que só ocorreu em 12 de março -, as estatais deram continuidade a boa parte dos projetos do PAC. O Programa Brasil com Todo o Gás, por exemplo, recebeu R$140 milhões, 5% do total previsto para 2008, e a Infraero gastou R$33 milhões em obras aeroportuárias. As estatais utilizaram ainda recursos empenhados no ano passado, mas que não haviam sido pagos.

Segundo a ONG Contas Abertas, até o fim de março o PAC aplicou R$1,4 bilhão, utilizando os restos a pagar de 2007. A aplicação média de dinheiro do programa foi de R$15,4 milhões por dia, 113% mais do que a média de R$7,2 milhões por dia em 2007. A Eletronorte gastou R$80,4 milhões com a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará. Depois vêm a Companhia de Transporte de Salvador, com R$69,5 milhões, e a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos, com R$68,2 milhões.

Os dados levantados pela Contas Abertas mostram que durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva a média anual de investimentos no primeiro trimestre foi de R$1,4 bilhão. Em 2007, ano de lançamento do PAC, atingiu R$2,897 bilhões, chegando a R$3,446 bilhões este ano.

Ainda segundo a ONG, somente em 2000 os investimentos foram proporcionalmente maiores ao registrado nos três primeiros meses deste ano. Na época, em valores atualizados pela inflação, foram contabilizados R$6,5 bilhões.