Título: Morte política
Autor:
Fonte: O Globo, 05/04/2008, O Mundo, p. 41

Se Ingrid Betancourt morrer em mãos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, isso poderá significar quase a morte política das Farc, diz, por telefone, o analista político Alejo Vargas. Para ele, mais do que a libertação de presos, a guerrilha deseja seu reconhecimento político.

Cristina Azevedo

O caso de Ingrid Betancourt está perto da solução?

ALEJO VARGAS: Não creio. As Farc deixaram claro que qualquer libertação deve ser produto de acordo, e para esse acordo disseram que precisa haver a desmilitarização (de dois municípios) e a reunião das partes. E isso não está na agenda do governo.

As Farc não abririam mão da desmilitarização de Pradera e Florida?

VARGAS: Até hoje é o que conhecemos da posição das Farc. E me parece que não podemos especular que outro tipo de proposta seja aceita. Talvez uma alternativa fosse a inclusão da senadora Piedad Córdoba e do presidente (da Venezuela) Hugo Chávez (nas negociações). Mas o governo não está interessado no momento nessa opção.

O que lhe parece a oferta de asilo do presidente da França aos guerrilheiros libertados? É a melhor oferta que as Farc já receberam?

VARGAS: Sim, mas o problema é entender a contraparte. Me parece que o fundamental para as Farc é o reconhecimento político. A zona de desmilitarização tem esse sentido: sentar-se e conversar com o governo e, nessa medida, ter reconhecido implicitamente seu papel de ator político. Isso a proposta da França não resolve. O equívoco, na minha opinião, é que o problema com as Farc não é unicamente a libertação dos presos: a preocupação central é o reconhecimento político.

Mas a proposta do presidente Nicolas Sarkozy de certa forma não daria à guerrilha um reconhecimento político?

VARGAS: Não. Não é clara nesse sentido. Outra coisa seria se a União Européia propusesse retirar o grupo da lista de terroristas. Além disso, as Farc querem o reconhecimento político do governo colombiano.

Que custos a morte de Ingrid traria, tanto para o governo quanto para as Farc?

VARGAS: Seria terrível. Me parece que para as Farc teria um custo muito grande, a nível internacional. A nível nacional também. Creio que seria quase sua morte política. O governo também teria um custo político, internacional sobretudo. Internamente, ele tem grande unanimidade.